Música
15 dezembro 2023

Música

Tempo de leitura: 3 min
O padre António Cartageno é autor de muitas peças musicais, entre as quais a cantata «O Cantor da Sede de Deus», um disco duplo, que evoca o percurso de Santo Agostinho.
António Marujo
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O padre António Cartageno é conhecido pela extraordinária obra que fez de recuperação e revitalização do canto de raiz popular alentejana para a música litúrgica e sacra. Além disso, ele é também autor de muitas outras peças, entre as quais a cantata O Cantor da Sede de Deus, para solista, coro e orquestra, que evoca o percurso de Santo Agostinho.

No primeiro deste disco duplo regista-se a gravação ao vivo dessa cantata, uma peça com um prólogo e três andamentos: A procura; O encontro; e O louvor do homem justo. No seu percurso, Agostinho de Hipona traduz as grandes tensões da experiência humana, com o coração inquieto, as perguntas sobre o mistério da existência, a busca da beleza e da paz, o encontro com Deus. E esta obra de António Cartageno transpõe para música essa experiência de tensão, conflito interno, dúvida, procura e pacificação que encontramos na obra maior da literatura e da mística que são as Confissões do bispo de Hipona: «Tarde vos amei,/ /Ó beleza tão antiga e sempre nova,/ tarde vos amei! […] Saboreei-Vos/ e tenho fome e sede de Vós./ Tocastes-me/ e agora desejo ardentemente a vossa paz.»

Numa entrevista de vida concedida a Maria do Sameiro Pedro no 7Margens, o padre Cartageno explicava que, ao revestir de música as palavras de Agostinho, foi «experimentando» tocar e começando depois a cantar, sentindo-se «o primeiro ouvinte interior» da sua própria música: «Para mim, a música, quando a estou a pensar, está toda dentro de mim. E vejo que aquela forma de expressão também me comove. Ou comove-me a mim em primeiro lugar.» E admitia: «A certa altura, eu próprio, sozinho, estava a chorar. Como é que é isto? Não é explicável, é um texto muito intenso. Alguém que começa a experimentar que descobriu Deus, começa a experimentar a presença de Deus na sua vida…»

O segundo disco inclui três outras obras igualmente significativas e também de grande beleza: Summa Augustiniana, de João Santos (para barítono, coro, saxofones, tímpanos, tubular bells e órgão), que assume uma concepção minimalista e um carácter contemplativo de uma grande intensidade, que nos faz recordar e remeter para a música profunda do estoniano Arvo Pärt; Servus Tuus Humilis, de Alberto Roque (para orquestra de sopros) que celebra a grande cultura e a extrema humildade do bispo de Hipona com uma plasticidade bem expressiva que lhe é dada pelos sopros; e Fecisti Nos Ad te, o Deus, de Joaquim Vicente Narciso, um moteto para coro de profunda intensidade melódica e contemplativa.

 Disco

Título: O Cantor da Sede de Deus

Autores: António Cartageno, João Santos, Alberto Roque e Joaquim Vicente Narciso

Intérpretes: Vários

Edição: Paulinas

encomendas@paulinas.pt

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Tags
Discos
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EDIÇÃO
Maio 2024 - nº 746
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