Como uma escrava se tornou rainha do califado de Córdova. Esta é a história que se conta neste disco do Euskal Barrok Ensemble, criado em Bilbau (País Basco) em 2006 e dirigido por Enrike Solinís. Subh era uma mulher basca, que terá sido feita escrava e foi levada para a capital do Al-Andaluz. Desde cedo, no entanto – conta-se na apresentação do disco – terá recebido uma educação literária e musical muito cuidada, o que lhe permitiu tornar-se uma escrava cantora (muganniya).
O califa do tempo (estamos na década de 960), Al-Hakam II, homem profundamente culto, que criou, no palácio de Córdova, a maior biblioteca do seu tempo, com 400 mil livros, ficou cativado por Subh. Em 962, ela deu à luz o seu primogénito e três anos depois Hisham, o que permitiu que ela passasse a ser reconhecida como ela umm-walad (literalmente: a mãe do filho), título atribuído às escravas que tinham tido filhos com o seu proprietário. Mas o facto de ser mãe do herdeiro tornou-a a favorita (haziya) do soberano do Al-Andaluz, confirmado pelo título honorífico de grã-mestra (al-sayyida al-kubra) que ela recebia.
Em 976, quando o califa morre, Subh fica com a missão de defender os direitos ao trono do seu filho Hisham. Mas anos antes o califa escolhera Ibn Abi Amir (o futuro Almançor) como intendente dos bens do seu filho, o que fez com que se iniciasse uma luta pela sucessão. Durante vinte anos, Subh dirigiu os assuntos de governo, mas, por ser mulher, não tinha poder sobre o exército – esse estava sob o controlo do futuro Almançor, o que lhe permitiria ascender ao poder em 996.
O texto de apresentação do disco acrescenta que esse facto pôs um ponto final num tempo «singular da história do califado, em que uma mulher, virando o seu destino do avesso, passou de escrava a rainha e governou o Al-Andaluz tomando as suas próprias decisões com grande inteligência e com um objetivo político claro: preservar a herança do seu filho, o califa Hisham, que, por falta de carácter ou por doença, não era capaz de governar sozinho ou de enfrentar o seu primeiro-ministro tirânico, como Subh ousou fazer». Mais ainda: o poder desta mulher de origem escrava não é excepção no Al-Andaluz, pois em cinco gerações de emires e califas houve mães bascas, «razão pela qual quase todos eles eram louros e de olhos azuis, em resultado da sua herança materna». E o próprio Almançor viria a desposar Abda, filha do rei Sancho II Abarka, de Pamplona.
A música acompanha esta história, que mescla a música medieval de diferentes inspirações: árabe, cristã, litúrgica. E se percebemos que sempre houve lutas pelo poder, conflitos, guerras de exércitos, a história de Subh diz-nos também que há muito que a história humana é feita também de encontros entre diferentes povos e etnias, e que muitas mulheres sempre exerceram cargos de responsabilidade e governo. A conquista, os amores, os encontros e as lutas ouvem-se e deleitam-nos neste extraordinário percurso musical.
Título: Subh
Intérpretes: Euskal Barrok Ensemble; dir. Enrike Solinís
Disponível nas lojas e em plataformas digitais
Veja o vídeo com um excerto do disco: