

Título: The Spirit of Bulgarian Traditions
Intérpretes: Nedyalko Nedyalkov, Stoimenka Nedyalkova, Petar Milanovtambura, Nikolay Krachmarov, Angel Angelov e Ivan Panchev
Edição: Alia Vox. Disponível nas plataformas digitais
Apresentando o disco, Nedyalko Nedyalkov explica que esta é uma obra em que os músicos embarcaram «numa viagem para captar a essência das canções e peças instrumentais de vários grupos étnicos da Bulgária», infelizmente pouco presentes nos média, embora ainda marcantes nas tradições de comunidades locais. Este património rico revelou-se, no Ocidente, nos discos Músicas que Falam com Deus ou em nomes como os húngaros Márta Sebestyén e Mákvirág (que saudades da Hungria multicultural e não xenófoba), o sérvio-bósnio Goran Bregović, o sérvio Emir Kusturica, os romenos Fanfare Ciocarlia, ou o romani Renato Ianovich, entre tantos.
Num território dilacerado por impérios, os povos mantiveram uma extraordinária cultura musical que nos traz pérolas como esta: o etnomusicólogo e compositor Nedyalko Nedyalkov, especialista em kaval, flauta tradicional búlgara, traz-nos, com vários instrumentos tradicionais, um extraordinário panorama do que pode a beleza e harmonia da música, em zonas de conflito. A gravação foi feita na Catedral de São José, em Sófia, no que também traduz um espírito de diversidade religiosa que marca aquela região da Europa. Um disco que traduz, escrevia Maria Ivanova no Sonograma, «a subtileza da arte e um profundo respeito pela diversidade cultural».

Título: Abélard & Héloïse
Autor: Pedro Abelardo
Intérpretes: Ensemble Ligeriana; dir. Katia Caré
Edição: Bayard Musique
Disponível nas plataformas digitais
Pedro Abelardo (1079-1142) foi um importante filósofo, teólogo, monge e músico. Polemizou com S. Bernardo, foi condenado nos concílios de Soissons (1121) e Sens (1141), entre outros, por causa do tratado sobre a Santíssima Trindade. Fundou o Oratório do Paracleto, dedicado ao Espírito Santo, e morreria, depois da segunda condenação, no priorado de Saint-Marcel (Borgonha).
Abelardo envolveu-se (e casou secretamente) com uma sua educanda, Heloísa de Argenteuil, sobrinha de um cónego da Catedral de Notre-Dame. Por causa disso, a família de Heloísa terá mandado castrá-lo, episódio descrito pelo próprio na História das Minhas Calamidades como um castigo divino em razão do qual decidiu entrar na vida monástica. Heloísa entrou, por sua vez, no convento de Argenteuil, depois do nascimento de Astrolábio, filho de ambos. Viria a tornar-se abadessa, pela sua cultura e capacidade argumentativa – Pedro, o Venerável, abade de Cluny, dizia que ela era conhecida como nominatissima [extremamente célebre].
Abelardo deixou uma vasta colecção de hinos litúrgicos que compôs para as freiras de Argenteuil e seis prosas narrativas em forma de lamentação escritas a partir de temas bíblicos, os planctus. É uma selecção dessas peças que este disco nos oferece, num belo e irrepreensível trabalho do Ensemble Ligeriana.
