Música
15 agosto 2021

Música

Tempo de leitura: 3 min
Três grandes discos para ouvir durante as férias.
António Marujo
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Terra Prometida, o novo disco de Jónatas Pires, contém afirmações de esperança, de fé (“Eu sei bem/ Que no final/ Não vou ficar/ Sozinho”), também de dúvida. Tão-pouco lhe falta o olhar cáustico (“Senhor Salgado/ Quanto do seu sal/ São lágrimas de Portugal”), a convicção da partilha (“Se vieres com fome, tens a mesa posta.”) ou a bênção de uma herança: “Aos meus filhos o teu nome eu ensinei/ P’ra que por seu sopro viva quem eu tanto amei.” Referências bíblicas implícitas constantes, uma música que nos resgata das angústias pandémicas (arrebatador o dueto com Selma Uamusse) e que nos leva da serenidade à firmeza e de novo à quietude. Um disco para peregrinos, como define o próprio autor, obrigatório para estes tempos.

Disco3

Título: Terra Prometida

Autor e intérprete: Jónatas Pires

Edição: Sony Music Portugal

 

Disco1

O disco apresenta-se com um poema do japonês Murakami Kijo (1865-1938), autor de haikus: “Embora haja a estrada,/ A criança caminha na neve.” Começa com um hino de Outono, acaba com um de Inverno. E viaja, como dizem os títulos das músicas, caminhando na neve, no anseio das aves migratórias, pelas estrelas do Sul, com a mãe negra, numa dança do sol ou caminhando na areia... Mas é, sobretudo, uma espantosa viagem por sons iniciáticos, que começa com um sopro, um bater à porta e uma flauta encantada, abrindo combinações de 11 instrumentos (que, em alguns casos, Micus nunca tinha tocado ou que nunca tinham sido tocados juntos) de vários países e regiões: Moçambique, Gâmbia, África Central, Egipto, Japão, Bali, Xinjiang, Tibete, Peru e EUA. Um belíssimo disco de mistérios e encantamentos.

Título: Winter’s End

Autor e intérprete: Stephan Micus

Edição: ECM

vendaspt@distrijazz

 

Disco2

No Antigo Egipto, a harpa era símbolo da união entre o mundo dos vivos e dos mortos, mas a origem e doçura deste instrumento vem de antes ainda, pois está ligada à invenção dos primeiros arcos tensos, como explica Arianna Savall na apresentação do disco. Pela primeira vez a solo e tocando apenas harpa, a cantora e harpista reúne neste disco várias canções de diferentes épocas (pelo menos desde o século xii ao xviii), executadas com sete harpas de diversas proveniências. Instrumento encantatório – “hipnótico”, escreve Arianna, ligado a fadas ou aos Salmos bíblicos de David, a harpa tem o poder de nos transportar para os tempos imemoriais – ou seja, para o mais fundo de nós. Este disco faz isso de modo soberbo.

Título: Le Labyrinthe d’Ariane

Intérprete: Arianna Savall

Edição: Alia Vox

vgm@plurimega.com

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Música
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