Música
31 outubro 2021

Discos

Tempo de leitura: 3 min
«When We Leave» e «Les Apothéoses» dois grandes discos com músicas belíssimas.
António Marujo
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Podemos tomar os títulos dos temas deste disco e quase não precisaríamos de mais palavras: Loving, Caring, Turning, Flying, Playing, Begging. Amando, cuidando, virando, voando, brincando, implorando... O segundo tema, por exemplo, como que nos remete para a importância do embalo e protecção de uma pequena criança; já «voando» parece que nos leva a planar levemente sobre vidas e sonhos; «brincando» como que descreve jogos e sorrisos; e «implorando» é um lamento triste e paradoxalmente firme. O trompete de Mathias Eick, que dá nome ao disco e lidera a banda que aqui toca, tem o sortilégio de pôr as palavras em melodias sem que seja necessário cantar ou dizer com letras os sentimentos e as emoções que atravessam este quinto disco do músico norueguês. Importa, aliás, acrescentar que os instrumentos tocados pela banda são essenciais para a construção dessa magia: violino, percussões, piano, baixo, tambores, guitarra elétrica... Sobre o seu trabalho e a combinação, por exemplo, entre o violino e a guitarra, Eick fala num «tapete de harmonias» que «acrescenta uma sensação de profundidade» e «cria um som especial». E afirma: «Estou sempre à procura de sons que sejam únicos e se destaquem do tempo». Este “Quando partimos” acaba por nos destacar no tempo esta música intemporal.

 

Disco1

Título: When We Leave

Autora e intérprete: Mathias Eick e outros

Edição: ECM  |  vendaspt@distrijazz

 

 Disco2

Couperin compôs estas duas peças em 1724 e 1725, num tempo em que havia uma espécie de trégua na guerra musical não declarada entre um gosto estético de matriz francesa e um outro italiano. O músico, no entanto, declara a sua neutralidade: «Pela minha parte, sempre estimei as coisas que o mereciam, sem discriminação de autores nem de nações...» Em homenagem a dois músicos que considerava «mais admiráveis que imitáveis», Couperin compôs estas duas obras, que se fazem de curtos andamentos como exercícios de humor, leveza e riqueza melódica. São, como escreve Philippe Beaussant, «duas declarações de intenções, duas proclamações de fé, duas mensagens de reconhecimento, assim como duas afirmações firmes e ambíguas ao mesmo tempo feitas pelo próprio Couperin através de dois grandes predecessores aos quais rende homenagem». Uma espécie de exercício prático da beleza.

Título: Les Apothéoses

Autor: François Couperin

Intérpretes: Jordi Savall, Monica Huggett, Chiara Banchini, Ton Koopman, Hopkinson Smith

Edição: Alia Vox  |  vgm@plurimega.com

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Música
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