Música
15 novembro 2022

Discos

Tempo de leitura: 3 min
Deixamos aos nossos leitores mais duas belíssimas sugestões musicais.
António Marujo
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Tempo de expectativa, tempo de esperança, tempo de vigilância, tempo de alegria, o Advento é também tempo de súplica, penitência, espanto e maravilhamento, como tão bem define Meinrad Walter no texto de apresentação deste disco de Les Escapades, de Karlsruhe (Alemanha). O tom é-nos dado logo no início, com Lieber Herre Gott, wecke uns auf (“Querido Senhor Deus, desperta-nos”). Antigo canto litúrgico do Advento, a adaptação para alemão terá sido feita por Martinho Lutero e depois musicada por Johann Rosenmuller (1620-1684). Esse tom entre a vigilância (como conversão) e a alegria marca este disco, na memória dos símbolos e ritmos deste tempo sempre especial. O espanto e maravilhamento que ligamos à atitude das crianças, mas também a contenção que ligamos à contemplação (como quando se admira um bebé a dormir) estão, por exemplo, nas três estrofes de Mit Ernst, o Menschenkinder (“A sério, ó filhos dos homens”), de Valentin Thilo (1607-1662), seguidas do Gaudete (“Alegrai-vos”) e do Es kommt ein Schiff, geladen, que são, a este título, uma bela síntese deste disco, nas referências bíblicas e simbólicas que transportam: o anúncio da vinda de Jesus e o seu baptismo no Jordão, a gratidão que se expressa em cantar “com o coração e a boca”, Nossa Senhora como um navio carregado com o mais precioso tesouro, trazendo riquezas celestiais aos pobres. Um disco para, como sugere o título, maravilhar o mundo inteiro.

 

Disco2

Título: Dass sich wunder alle Welt (Canções alemãs de Advento)

Autores: Vários

Intérpretes: Consort de viola de gamba Les Escapades

https://www.escapades.de/en/kontakt/

  

 

 Disco1

Esta suite para piano, quarteto de cordas e percussão foi composta por Wolfert Brederode em 2018, assinalando o centenário do fim da Grande Guerra 1914-18, mas adquiriu depois outros significados: «A vários níveis, a peça tem a ver com o luto e a perda e com o aprender a levantar-se de novo», refere o pianista no texto de apresentação da obra. Estamos diante de uma peça em 14 andamentos com títulos sugestivos como Ruínas, Restos mortais, Sem nuvens, Nada por garantido, Marcha..., em que os diálogos entre o piano de Brederode, os violinos, viola e violoncelo do Matangi e a percussão de Joost Lijbaart criam uma atmosfera especial que oscila entre a tragédia e o renascimento, entre a tristeza e o fulgor, entre a sombra e a esperança – um pouco como a sequência que, na liturgia católica, coloca a Festa de Todos os Santos e dos Fiéis Defuntos em dias seguidos. Com uma beleza profundamente subtil, este é um disco que nos anuncia as cores quentes do Outono. Entre ruínas, entre despojos, descobrindo a cintilação que surge entre os escombros.

Título: Ruins and Remains

Autor: Wolfert Brederode

Intérpretes: Wolfert Brederode, Matangi Quartet, Joost Lijbaart

Edição: ECM (vendaspt@distrijazz)

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Discos
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EDIÇÃO
Abril 2024 - nº 745
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