Igreja
19 junho 2025

Acompanhar os refugiados do Sudão do Sul

Tempo de leitura: 4 min
Nos vastos campos de refugiados do Sudão, para onde centenas de milhares de sul-sudaneses fugiram do conflito e da violência, as Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus vivem ao lado dos deslocados, oferecendo assistência espiritual, solidariedade e esperança.
Ir. Paola Moggi
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Nos campos de refugiados sobrelotados do Sudão, onde a violência e a escassez são desafios diários, as Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus (SHS) oferecem um apoio crucial às pessoas deslocadas. A congregação sul-sudanesa, que vive em campos como Al Kashafa, presta cuidados espirituais, aconselhamento sobre traumas e ajuda prática a milhares de pessoas deslocadas por causa de décadas de conflito.

A presença das religiosas é vital no Estado do Nilo Branco, servindo os refugiados em Al Kashafa e nos campos vizinhos, como Gemeyia e Jorry. Elas organizam programas de catequese, visitam os doentes e oferecem conforto a quantos sofrem de fome, maus-tratos e das consequências emocionais do deslocamento. «O nosso principal serviço é ouvi-los», disse a irmã Georgina Victor Nyarat, que trabalha em Al Kashafa desde Dezembro de 2023: «As pessoas estão realmente a sofrer.»

A congregação, fundada em 1954 pelo bispo Sisto Mazzoldi [1898--1987, missionário comboniano, primeiro bispo de Juba] no Sudão do Sul, viveu a guerra e o deslocamento em primeira mão. Depois de fugirem da primeira guerra civil no Sudão, em 1964, as religiosas procuraram refúgio no Uganda antes de regressarem ao Sudão do Sul, mas viram-se forçadas a fugir novamente quando a segunda guerra civil eclodiu no Sudão, em 1983. Desde então, permaneceram com o seu povo, atravessando fronteiras para continuar a missão.

Em 2016, após a escalada da violência no Sudão do Sul, o bispo Daniel Adwok Kur, de Cartum, convidou as religiosas a irem cuidar dos refugiados na região do Nilo Branco, no Sudão. Estabeleceram residência em Al Kashafa, um campo que alberga mais de 150 mil sul-sudaneses. A residência das religiosas, construída com telas de plástico, é uma estrutura humilde, mas a presença delas tem sido uma tábua de salvação para as pessoas deslocadas.

 

Enfrentar a discriminação

As religiosas também são mediadoras num ambiente tenso no qual as comunidades de acolhimento muitas vezes maltratam os refugiados. A irmã Mary Achwany George, que trabalha em Al Kashafa desde 2016, referiu que os refugiados do Sudão do Sul enfrentam discriminações, incluindo restrições para recolher lenha e água. «Muitos recebem ameaças, inclusive sexuais, quando deixam o campo», disse ela. Apesar desses desafios, as religiosas oferecem refúgio e esperança através da oração e da solidariedade.

As religiosas também fornecem apoio crucial quando as porções alimentares se tornam escassas. O Programa Alimentar Mundial (PAM) oferece algum alívio, mas a escassez persiste, obrigando os refugiados a trabalhar como jornaleiros com pouca compensação.
«O stress e a frustração podem tornar-se tão insuportáveis, especialmente para os jovens, que muitas vezes adoecem», diz a irmã Mary.

 

Partilhar a fé e a esperança

No meio dessas dificuldades, a presença das Irmãs SHS ajuda os refugiados a aprofundar a fé e a resistir. «No início, as pessoas não estavam próximas da Igreja», recorda a irmã Georgina. «Agora gostam de rezar connosco». Todos os anos, o bispo Daniel Adwok visita os campos para administrar o sacramento da Confirmação e prestar cuidados pastorais.

A irmã Mary realça a capacidade de resistência dos refugiados, que partilham o que possuem com os recém-chegados do Sudão. «Com o pouco que têm, os refugiados do Sudão do Sul também oferecem ajuda aos sudaneses deslocados que chegam aos campos. Eles dizem-nos: “Deus está lá, irmãs, e um dia voltaremos para casa”.»

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EDIÇÃO
Junho 2025 - nº 758
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