
O padre Roberto Minora, com a sua paciência e bom humor, introduziu-me na realidade social de Marcos Moura, marcada pela pobreza generalizada, crescente violência e os grandes desafios que as famílias enfrentam no quotidiano da vida. Gradualmente, inseri-me nas diversas pastorais das comunidades cristãs que procuramos acompanhar com zelo, amor e compaixão, ao jeito de Jesus. Sabemos muito bem que toda a pastoral vai beber ao múnus de Cristo, isto é, ela está ligada à missão de Cristo, o Bom Pastor.
O acolhimento que recebi por parte das comunidades cristãs foi fervoroso e afectuoso. Fizeram-me sentir parte desta grande família que é o Povo de Deus. Gente simples, respeitosa e guerreira, pois a vida quotidiana é dura para a maior parte das pessoas que moram neste bairro do município de Santa Rita, Paraíba. Porém, a dureza da vida não lhes rouba a alegria de viver e a gentileza no trato com os outros.
Partindo do princípio de que a pastoral visa fundamentalmente anunciar Cristo ao mundo e colaborar no projecto humanizador do Pai, ela envolve não apenas os pastores, mas toda a comunidade cristã. Sempre acreditei no protagonismo comunitário e não individual. Também os ritmos, os métodos, o modo de se fazer as coisas são igualmente diferentes em cada situação histórica onde o Evangelho é anunciado e encarnado.
Neste breve tempo de acção pastoral que tenho vindo a realizar na paróquia de Marcos Moura, a minha actuação tem sido mais de escuta, proximidade e acompanhamento, marcada pelo anúncio do Evangelho e formação cristã. De facto, os nossos interlocutores são pessoas que já conhecem a Cristo. Os desafios pastorais apontam mais para uma acção dirigida aos cristãos cuja fé ainda é bastante superficial ou marcadamente de sabor popular. Mas sentimos também a necessidade de ir à procura da «ovelha perdida». As igrejas evangélicas que vemos amontoadas ao longo das ruas com toda a sua gritaria e intenção proselitista podem «apanhar» aqueles cristãos católicos mais desprevenidos quanto a fé e compromisso.
Nesta realidade eclesial onde estamos inseridos, em que as nossas comunidades cristãs são relativamente pequenas, temos procurado encorajar os cristãos a viverem a sua vocação na Igreja em chave missionária, incentivando-os a ter uma presença mais forte nas casas das pessoas em forma de visita planeada em que se reza o terço, se celebra a Eucaristia reunindo os cristãos residentes naquela área e outras iniciativas. Aprecio muito os passos que algumas comunidades têm dado nesta direcção de «sair para a rua» no sentido de evangelizar, mas ainda há muito que fazer
A acção pastoral envolve, entre outras coisas, o serviço aos necessitados, o estudo bíblico, a dimensão celebrativa que temos procurado promover nas nossas comunidades cristãs. Conscientes de que estamos inseridos numa realidade social bastante pobre, com muitas carências humanas e afectivas, o desafio de uma participação mais generosa por parte das comunidades neste serviço aos mais carenciados é cada vez mais pertinente.
A paróquia, por meio da Pastoral da Criança, realiza acções de apoio aos menores e às suas famílias vulneráveis. Temos também outras instituições de cariz social, animadas e planeadas pelos combonianos e suas respectivas equipas, que dão um apoio extraordinário aos mais desfavorecidos da população. Entre elas, destacamos: o Centro de Formação Educativo Comunitário, sob a direcção das Irmãs da Divina Providência; o Centro de Defesa dos Direitos Humanos Dom Óscar Romero; o Projecto Legal, programa de apoio às crianças e adolescentes em vulnerabilidade social; a Cooperativa de Catadores de Reciclagem.
Sentimos a necessidade de reactivar e fortalecer a pastoral juvenil, familiar e vocacional. Infelizmente, a maioria dos cristãos não mostram grande disponibilidade em assumir compromissos e, nesse sentido, há um trabalho enorme a fazer para consciencializar as pessoas e envolvê-las mais nos diversos ministérios da comunidade.
Por fim, manifesto um desejo que trago no coração: poder vislumbrar uma igreja diocesana menos clerical e mais pastoral. Posso correr o risco de estar equivocado, pois estou aqui há pouco tempo, mas é um sentimento que quero expressar de forma fraterna. Citando as palavras do Papa Francisco, tenho a impressão de que a atitude de fundo que mais aflora numa grande parte do nosso clero é de serem «clérigos de Estado» e não «pastores do povo». É um sinal evidente de que existe ainda alguma resistência em se despojar das seguranças «clericais».
Sonho com uma pastoral de escuta, proximidade e acompanhamento, porque esta foi a prática de Jesus como parte da sua pedagogia do caminho em que Ele agia na vida das pessoas sempre a partir das suas situações concretas e existenciais, e em comunhão constante com o Pai, que O enviou como Servo de todos. Consciente das minhas limitações, desejo também fazer o mesmo caminho.
