Igreja
03 agosto 2025

Uma pastoral de escuta, proximidade e acompanhamento

Tempo de leitura: 6 min
O padre Joaquim Pereira, missionário comboniano português, partilha algumas considerações fruto da sua experiência pastoral na paróquia de Santo António, Marcos Moura, um bairro do município de Santa Rita, Paraíba, Brasil.
P. Joaquim Pereira
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O padre Roberto Minora, com a sua paciência e bom humor, introduziu-me na realidade social de Marcos Moura, marcada pela pobreza generalizada, crescente violência e os grandes desafios que as famílias enfrentam no quotidiano da vida. Gradualmente, inseri-me nas diversas pastorais das comunidades cristãs que procuramos acompanhar com zelo, amor e compaixão, ao jeito de Jesus. Sabemos muito bem que toda a pastoral vai beber ao múnus de Cristo, isto é, ela está ligada à missão de Cristo, o Bom Pastor.

O acolhimento que recebi por parte das comunidades cristãs foi fervoroso e afectuoso. Fizeram-me sentir parte desta grande família que é o Povo de Deus. Gente simples, respeitosa e guerreira, pois a vida quotidiana é dura para a maior parte das pessoas que moram neste bairro do município de Santa Rita, Paraíba. Porém, a dureza da vida não lhes rouba a alegria de viver e a gentileza no trato com os outros.

Acção pastoral

Partindo do princípio de que a pastoral visa fundamentalmente anunciar Cristo ao mundo e colaborar no projecto humanizador do Pai, ela envolve não apenas os pastores, mas toda a comunidade cristã. Sempre acreditei no protagonismo comunitário e não individual. Também os ritmos, os métodos, o modo de se fazer as coisas são igualmente diferentes em cada situação histórica onde o Evangelho é anunciado e encarnado.

Neste breve tempo de acção pastoral que tenho vindo a realizar na paróquia de Marcos Moura, a minha actuação tem sido mais de escuta, proximidade e acompanhamento, marcada pelo anúncio do Evangelho e formação cristã. De facto, os nossos interlocutores são pessoas que já conhecem a Cristo. Os desafios pastorais apontam mais para uma acção dirigida aos cristãos cuja fé ainda é bastante superficial ou marcadamente de sabor popular. Mas sentimos também a necessidade de ir à procura da «ovelha perdida». As igrejas evangélicas que vemos amontoadas ao longo das ruas com toda a sua gritaria e intenção proselitista podem «apanhar» aqueles cristãos católicos mais desprevenidos quanto a fé e compromisso.

Nesta realidade eclesial onde estamos inseridos, em que as nossas comunidades cristãs são relativamente pequenas, temos procurado encorajar os cristãos a viverem a sua vocação na Igreja em chave missionária, incentivando-os a ter uma presença mais forte nas casas das pessoas em forma de visita planeada em que se reza o terço, se celebra a Eucaristia reunindo os cristãos residentes naquela área e outras iniciativas. Aprecio muito os passos que algumas comunidades têm dado nesta direcção de «sair para a rua» no sentido de evangelizar, mas ainda há muito que fazer

Servir os mais necessitados

A acção pastoral envolve, entre outras coisas, o serviço aos necessitados, o estudo bíblico, a dimensão celebrativa que temos procurado promover nas nossas comunidades cristãs. Conscientes de que estamos inseridos numa realidade social bastante pobre, com muitas carências humanas e afectivas, o desafio de uma participação mais generosa por parte das comunidades neste serviço aos mais carenciados é cada vez mais pertinente.

A paróquia, por meio da Pastoral da Criança, realiza acções de apoio aos menores e às suas famílias vulneráveis. Temos também outras instituições de cariz social, animadas e planeadas pelos combonianos e suas respectivas equipas, que dão um apoio extraordinário aos mais desfavorecidos da população. Entre elas, destacamos: o Centro de Formação Educativo Comunitário, sob a direcção das Irmãs da Divina Providência; o Centro de Defesa dos Direitos Humanos Dom Óscar Romero; o Projecto Legal, programa de apoio às crianças e adolescentes em vulnerabilidade social; a Cooperativa de Catadores de Reciclagem.

 

Desafios

Sentimos a necessidade de reactivar e fortalecer a pastoral juvenil, familiar e vocacional. Infelizmente, a maioria dos cristãos não mostram grande disponibilidade em assumir compromissos e, nesse sentido, há um trabalho enorme a fazer para consciencializar as pessoas e envolvê-las mais nos diversos ministérios da comunidade.

Por fim, manifesto um desejo que trago no coração: poder vislumbrar uma igreja diocesana menos clerical e mais pastoral. Posso correr o risco de estar equivocado, pois estou aqui há pouco tempo, mas é um sentimento que quero expressar de forma fraterna. Citando as palavras do Papa Francisco, tenho a impressão de que a atitude de fundo que mais aflora numa grande parte do nosso clero é de serem «clérigos de Estado» e não «pastores do povo». É um sinal evidente de que existe ainda alguma resistência em se despojar das seguranças «clericais».

   Sonho com uma pastoral de escuta, proximidade e acompanhamento, porque esta foi a prática de Jesus como parte da sua pedagogia do caminho em que Ele agia na vida das pessoas sempre a partir das suas situações concretas e existenciais, e em comunhão constante com o Pai, que O enviou como Servo de todos. Consciente das minhas limitações, desejo também fazer o mesmo caminho.

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EDIÇÃO
Outubro 2025 - nº 761
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