
O Papa Francisco escreve que «São José não sobressaía, não estava dotado de particulares carismas, não se apresentava especial aos olhos de quem se cruzava com ele. Não era famoso, nem se fazia notar: dele, os Evangelhos não transcrevem uma palavra sequer. Contudo, através da sua vida normal, realizou algo de extraordinário aos olhos de Deus» (Mensagem do Papa Francisco para o 58.º Dia Mundial de Oração pelas Vocações). Efectivamente, com singeleza, mas com extrema confiança em Deus, José ensina-nos com a sua própria vida que devemos sempre confiar em Deus. José, humilde servo de Deus, homem justo, nunca hesitou em fazer a vontade de Deus.
José, ao assumir o casamento com Maria, envolto em dúvidas e inseguranças, aceitou com fé o plano de Deus. Mediante um sonho, José compreendeu que o menino que ia nascer de Maria, a sua prometida, era o Messias, o Salvador do seu povo e da Humanidade. Então, fez silêncio no seu coração e, com fé, serenidade e disponibilidade, levou adiante a promessa de Deus e a missão de proteger o mais precioso tesouro, Jesus de Nazaré.
José, homem de família, homem trabalhador, homem de Deus viveu uma vida comum a todos nós; contudo, sempre soube colocar Deus em primeiro lugar, confiando na Sua Palavra e fazendo o que Deus lhe instruía. «José teve de alterar os seus planos e entrar em jogo para executar os misteriosos projectos de Deus, sacrificando os próprios. Confiou plenamente» (Papa Francisco, idem). José deverá, pois, ser exemplo para todos nós, por amor à família e a Deus, saindo do conforto, da comodidade, tudo sempre por amor e apenas por Amor.
Nos acontecimentos da infância de Jesus, São José aparece e é notória a sua dedicação no cuidado, na responsabilidade e no amor à família e, como pai e esposo, assume com mestria os seus compromissos de pai e esposo. No entanto, José é o homem do silêncio, um silêncio que expressa um amor que actua além do desejo de reconhecimento ou aclamação, um aspecto que hoje, na era das redes sociais e da comunicação rápida, parece não dizer muito, pois estamos acostumados a muitas palavras e posições públicas.
Depois do nascimento de Jesus, José assumiu a missão de cuidar de Maria e de Jesus com empenho e alegria, protegendo-os com a sua própria vida.
Na fuga para o Egipto (Mt 2, 13-23), pouco depois do nascimento de Jesus, José teve a coragem de deixar as suas seguranças, o seu trabalho, a família e os amigos para salvar Jesus das mãos de Herodes, passando por caminhos perigosos e, certamente, por situações difíceis. Como sublinha o Papa Francisco na carta apostólica Patris Corde, a coragem criativa de São José manifesta-se na sua habilidade de superar adversidades com fé e determinação. Ele é um pilar de força, demonstrando uma resiliência inabalável enquanto guia e protege sua família pelos desafios da vida.
Em terra estrangeira, José necessitou de encontrar novo trabalho, sentiu certamente saudades da sua família e amigos, da sua terra. A experiência de São José é hoje repetida por milhares de migrantes que deixaram o seu país, família e amigos em busca de melhores condições de vida, em busca de segurança para si e sua família.
No regresso a Nazaré, São José continuou a exercer como carpinteiro e ensinou a Jesus, o seu «filho de coração», esse ofício. Era esse trabalho, realizado com constância, que dava sustento e dignidade à sua família.
José também apoia e nutre o crescimento espiritual e humano de Jesus, levando-os à sinagoga, partilhando a Palavra de Deus e testemunhando uma paternidade que reflecte o amor supremo e a liberdade concedida por Deus aos seus filhos.
O padre Fernando Cortés Barbosa, missionário comboniano mexicano, partilha connosco o seu testemunho vocacional missionário.
«Com apenas 21 anos, uma tarde, parei à beira da estrada para esperar o autocarro que ia para a minha aldeia. Não tinha passado nem meia hora quando vi um carro a aproximar-se e pedi boleia. O motorista certamente hesitou em levar-me, porque deteve-se a cerca de 100 metros. Peguei na minha mochila, coloquei-a no ombro e corri em direcção ao carro. Foi uma corrida que me levou à missão.
O motorista era um padre. Reconheci-o imediatamente, porque num domingo ele havia presidido a missa na igreja da minha aldeia. As palavras com que se apresentou ficaram gravadas na minha memória: “Sou missionário comboniano”. Aproveitei para lhe perguntar o que eram os Missionários Combonianos e, durante todo o trajecto até à minha aldeia, uma viagem de quase duas horas, só falámos da vocação missionária.
Essa conversa despertou em mim a ideia de partir para outros lugares do mundo, conhecer pessoas de outras culturas, fazer parte de uma fraternidade de pessoas de diferentes países que anunciam o Evangelho entre os povos mais necessitados. Sentia que o mundo me abria as suas portas de par em par. Só faltava tomar uma decisão.
No dia seguinte, o meu companheiro de viagem foi à paróquia para falar com o meu pároco e, assim que o vi, comuniquei-lhe a decisão que tinha tomado: “Quero ser missionário comboniano.” Ele aceitou e começou a oferecer-me revistas e livros sobre as missões e São Daniel Comboni, pai fundador dos Missionários Combonianos, com quem comecei a identificar-me.
As palavras que Comboni usava para encorajar as pessoas a seguirem a missão reforçavam a minha decisão de abraçar a vocação missionária. Entrei em contacto com os promotores vocacionais. Fui aceite para iniciar a minha formação. Corria o ano de 1998. Fui avançando nas etapas formativas: postulantado, noviciado e Teologia em Lima (Peru). Quando terminei, fiquei dois anos no meu país antes da ordenação diaconal.
Durante todo este período formativo, vivemos num processo contínuo de discernimento, que percebi como um apelo de Deus para sair de mim mesmo. Deus sempre nos inquieta e muda o nosso plano pessoal por outro melhor, que nos tira da nossa zona de conforto, como fez com São José. Isto coloca-nos diante da aventura de realizar a Sua vontade, uma vez que damos um sim cheio de confiança.
Fui ordenado sacerdote missionário em 2011 e fiquei no México a estudar Comunicação. Em 2015, fui enviado para a República Centro-Africana. A missão ensinou-me a viver a minha vocação como um dom, com a alegria de quem foi procurado, chamado e enviado pelo Senhor Jesus para anunciar o Evangelho além das suas fronteiras.
