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03 abril 2019

Arquitectura global em transformação

Tempo de leitura: 4 min
Num mundo preocupado com a gestão de crises, a mudança transformadora só pode ocorrer se os Estados adoptarem um espírito construtivo e colaborativo.
Carlos Reis
Jornalista
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No momento de transformação geopolítica, económica e ambiental que se vive globalmente, regista-se a mudança de uma ordem mundial baseada nos valores comuns para um mundo multiconceptual, moldado por narrativas concorrentes que procuram criar uma nova arquitectura global. O equilíbrio de poder entre Estados, que envolve as áreas de influência e as disputas comerciais, políticas, diplomáticas e culturais, está em transformação.

As relações de poder da globalização 4.0, designação da convergência entre tecnologias, levará o planeta aos limites do seu desenvolvimento. «Estamos a entrar na quarta Revolução Industrial, moldada por tecnologias avançadas dos mundos físico, digital e biológico que se combinam para criar inovações a uma velocidade e escala inigualável na história humana», antecipa o Fórum Económico Mundial, organização de líderes empresariais e políticos que se reúne anualmente, em Janeiro, em Davos (Suíça).

A nova fase da cooperação global criará, seguramente, novas oportunidades para a humanidade. No entanto, este progresso pressiona as instituições multilaterais a colaborarem na construção dum futuro partilhado e, assim, fazer face a crises geopolíticas, económicas e ambientais. O desenvolvimento sustentado exige a cooperação entre países, indústrias e sociedades concorrentes e cada vez mais conflituantes nos seus valores e ambições.

«A menos que sejam adoptadas medidas determinadas, existe o risco de a globalização, combinada com os efeitos da evolução tecnológica e de crises económicas, contribuir para agravar as desigualdades e a polarização social. Em vez da resignação em deixar a globalização moldar o destino, há a oportunidade de moldar a globalização de acordo com os valores e interesses», preconiza a União Europeia no documento EC Harnessing Globalisation.

 

Globalização da solidariedade

São inegáveis os benefícios da globalização. Sem a abertura dos mercados e sem o comércio internacional, não teria sido possível retirar mil milhões de pessoas da situação de pobreza extrema. «O problema não está na capacidade de, através da globalização, gerar mais crescimento económico. O grande problema está, por incapacidade das políticas nacionais e da coordenação internacional, no aumento das desigualdades verificado nas últimas décadas», observa o director da cooperação para o desenvolvimento da OCDE. «São muitos os que, nos países mais ricos, sentem que as oportunidades económicas escasseiam e que as alterações demográficas, tecnológicas e climáticas ameaçam empregos e a sustentabilidade do Estado social», alerta Jorge Moreira da Silva.

Para se cumprirem os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável, promovidos pelas Nações Unidas, é necessário reforçar, com recursos públicos e privados, a ajuda ao desenvolvimento, promover a concorrência e o acesso aos mercados, combater a cartelização, os fluxos financeiros ilícitos, o proteccionismo e o populismo e nacionalismo, preconiza a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico.

A Santa Sé defende uma globalização da solidariedade que ultrapasse fronteiras e fomente a justiça social e o bem comum. «Ainda está para ser construída uma globalização da solidariedade. O futuro do mundo global é viver juntos», aponta o Papa Francisco, sabendo que a diversidade pode ser fonte de hostilidades e conflitos. Tal como o movimento alternativo Fórum Social Mundial defende, «uma outra globalização é possível», mais solidária e participativa.

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