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31 janeiro 2021

Joe Biden, o católico

Tempo de leitura: 5 min
Joe Biden, que governa os Estados Unidos desde 20 de Janeiro de 2021, é o segundo presidente norte-americano que professa o catolicismo. O primeiro foi John F. Kennedy (1961 a 1963).
Paolo Moiola
Jornalista
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Biden é o segundo católico a ser eleito presidente dos Estados Unidos (Foto: Lusa)

Estima-se que, no dia 3 de Novembro de 2020, cerca de metade dos eleitores católicos tenham votado em Biden. A outra metade ficou do lado do ex-Presidente Donald Trump; uma grande parte deles pertence às fileiras anti-Francisco. 

Durante o seu mandato, o ex-presidente relacionou-se principalmente com cristãos evangélicos. Trump tinha o Conselho Consultivo Evangélico, um órgão composto principalmente por líderes de organizações religiosas de direita, pregadores da televisão e pastores conservadores (The Washington Post, 30 de Agosto de 2018). Paula White, uma conhecida televangelista da Florida, era a sua principal conselheira espiritual.

A 1 de Junho do ano passado, no meio de protestos pela morte de George Floyd, Donald Trump saiu da Casa Branca para a Igreja Episcopal de São João. Cem metros desocupados pela polícia com gás lacrimogéneo. Chegando em frente à igreja com o seu grupo de escoltas (todos brancos e sem máscaras), o antigo presidente colocou-se em frente ao cartaz com o nome da igreja e ergueu para o céu a Bíblia que segurava nas mãos. Sem abri-la. Tudo diante das câmaras de televisão e as máquinas fotográficas.

Durante o seu mandato presidencial, Trump usou o discurso religioso para os seus fins políticos, um “nacionalismo cristão" que foi conquistando muitos seguidores entre os seguidores de grupos evangélicos e católicos.

Houve políticos republicanos e dirigentes religiosos que falaram abertamente sobre a intervenção de Deus na sua ascensão ao poder. Franklin Graham, um conhecido pastor evangélico, disse numa entrevista em Julho de 2019, que «Deus estava por detrás da última eleição», ganha por Trump.

A nomeação acelerada para o Supremo Tribunal da Juíza católica Amy Coney Barrett, nomeada poucos dias antes das eleições de 3 de Novembro, também fazia parte do desenho político e eleitoral do ex-presidente. Este uso instrumental da fé religiosa por Trump ajudou a promover um clima de muita divisão.

A 30 de Agosto de 2020, o padre James Altman, de La Crosse, no Wisconsin, disse num debate difundido no YouTube: «Não se pode ser católico e ser democrata [...] Arrependam-se – exorta o padre Altman no vídeo – do vosso apoio àquele partido e à sua plataforma ou enfrentarão as chamas do inferno!».

A oposição da direita cristã continua mesmo depois da derrota clara do ex-presidente. «Jesus salva» mostravam alguns cartazes no comício pró-Trump no passado dia 6 de Janeiro, do qual resultou o ataque ao Capitólio. Eventos que forçaram vários dirigentes religiosos republicanos (como os pastores Mark Burns, Pat Robertson, etc.) a, aparentemente, distanciarem-se do ex-presidente. Mas, se ele parece, pelo menos por enquanto, fora de jogo, o trumpismo não está.

Um dia depois da tomada de posse do novo presidente, o site do Centro Falkirk da Liberty University, uma instituição cristã (Baptista Evangélica), publicou um longo artigo sobre as «formas pelas quais todos nós podemos glorificar Cristo enquanto nos opomos às políticas de Biden».

 biden2O presidente dos EUA, Joe Biden, sai da igreja católica da Santíssima Trindade no bairro de Georgetown em Washington, DC, EUA, no passado dia 30 de Janeiro (Foto:Lusa)

 

Na sua carta de boas-vindas (com data de 20 de Janeiro) ao novo presidente e à sua família, o arcebispo José Gómez, presidente da Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos (Usccb), escreveu que «trabalhar com o Presidente Biden será único, será o primeiro presidente que, em 60 anos, professa a fé católica». No entanto, é fácil prever que o diálogo não será fácil em determinadas questões e, em particular, na questão do aborto.

De acordo com uma pesquisa do Pew Research Center (4 de Janeiro), no 117.º Congresso dos EUA uma maioria absoluta de deputados seria protestante (294 pessoas, 55,4 por cento do total), enquanto os católicos seriam 158, ou 29,8 por cento, uma percentagem maior do que os católicos no país (20 por cento). É pouco provável que os católicos pró-Trump mudem de ideias sobre o seu sucessor. Em vez disso, é muito provável que, ao contrário de Trump, o católico Joe Biden não use a fé religiosa como ferramenta de luta política.

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