Opinião
05 setembro 2023

A caridade que transforma

Tempo de leitura: 3 min
Nos dias que correm, desvaloriza-se muito o sentido da caridade, mas na verdade é a caridade que salva.
Rita Valadas
Presidente da Cáritas Portuguesa
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(© Caritas Internacionalis)

 

Escreve o Papa Francisco: «A caridade alegra-se ao ver o outro crescer; e de igual modo sofre quando o encontra na angústia: sozinho, doente, sem abrigo, desprezado, necessitado... A caridade é o impulso do coração que nos faz sair de nós mesmos gerando o vínculo da partilha e da comunhão» (Mensagem para a Quaresma 2021).

A Rede Cáritas em Portugal tem vindo a consolidar um lema que quase usa como assinatura: Cáritas, o Amor que transforma. A Rede Internacional usa o Together we [Juntos é o lema da campanha mundial 2021-2024, um convite a que todos desempenhemos um papel activo no cuidado da nossa Casa Comum e dos pobres, para tornar o nosso planeta um lugar melhor e mais saudável para as gerações actuais e futuras]. É uma forma de identificar em poucas palavras o pulsar da rede. Assumir que a caridade é uma das nossas forças, a ferramenta no agir e o exemplo na acção.

É olhar para a caridade como uma cultura estratégica e um processo de inspiração nos desafios do cuidar de problemas sociais cada vez mais complexos.

É procurar encontrar formas de autonomizar, inserir, inovar, incluir muito para lá do apoio pontual ou ocasional que «desatormenta», mas não cura.

É considerar que em comunidade todos podemos ser recurso e solução. Ninguém se salva sozinho, não há uma só receita e todos podemos ter o trunfo certo.

Quando jogava às escondidas, lembro-me de que o último podia salvar todos… Às vezes o mais pequenino chegava à partida e dizia: «(X) salva todos».  Já então era o «todos, todos, todos e cada um» que nos dias da Jornada Mundial da Juventude tanto nos inspiraram.

A comunhão fraterna que não quer deixar ninguém de fora tem de usar a caridade com todos os dons, vantagens e tesouros que temos, quer seja uma causa humanitária, uma campanha de emergência ou uma estratégia, iniciativa, missão ou acção para mudar as vidas dos mais vulneráveis, cuidar da Casa Comum ou confortar quem sofre.

A caridade não é uma ferramenta frágil, é um trunfo, que unido a uma escuta activa, uma vigilância permanente e aos recursos de que dispusermos pode transformar vidas. Como refere o Papa Francisco, «a partir do “amor social”, é possível avançar para uma civilização do amor a que todos nos podemos sentir chamados. Com o seu dinamismo universal, a caridade pode construir um mundo novo, porque não é um sentimento estéril, mas o modo melhor de alcançar vias eficazes de desenvolvimento para todos» (Fratelli Tutti, 183).

Nos dias que correm, desvaloriza-se muito o sentido da caridade, mas na verdade é a caridade que salva. A caridade não desiste mesmo com a escassez e todas as tormentas. Se não conseguimos a solução ideal, tentaremos construir uma que nos permita o princípio do caminho para uma solução.

Cáritas é o amor que transforma. Como Francisco tem pedido incessantemente: «Não tenham medo.» Vamos lá então! 

 

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