Opinião
19 maio 2024

Missão como anúncio

Tempo de leitura: 4 min
A celebração pascal, que se conclui agora com o Pentecostes, acresce urgência ao anúncio e renova a beleza do testemunho cristão.
P. Manuel Augusto Lopes Ferreira
Missionário comboniano
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(© LMC)

 

Escrevo este texto em contexto pascal, quando lemos as narrativas dos encontros de Cristo glorificado com os apóstolos e os textos dos Actos dos Apóstolos que evocam os inícios da Igreja com a experiência do Pentecostes. Os leitores lêem este texto já em contexto de Pentecostes, evocativo da vinda do Espírito Santo sobre a Igreja nascente e do início da sua missão no mundo e na História. Estas leituras deixam claro qual foi o primeiro modelo de missão: o anúncio da ressurreição de Cristo, um modelo ligado à palavra do querigma, do anúncio cristão da glorificação de Jesus; aquele que fora humilhado e morto pelas mãos dos homens ressuscita pela mão de Deus e é constituído Senhor dos vivos e dos mortos. Esta é a palavra, a verdade definitiva sobre Jesus de Nazaré, que é urgente comunicar.

Também hoje sentimos este carácter de urgência do anúncio cristão, que proclama uma novidade inaudita, o início de um dia novo em que a Vida se anuncia sem ocaso, com sentido pleno, com uma novidade que responde aos anseios mais profundos da pessoa humana. É urgente fazer este anúncio, numa sociedade e cultura onde a vida e o que ela significa têm sentido a prazo; isto é, enquanto duram, enquanto a desilusão e o sofrimento, a deriva e a frustração, a doença e a morte não tomam conta da vida e lhe tiram o sentido que lhe damos. A palavra do anúncio cristão da Ressurreição afirma que a morte não é uma porta sem retorno que nos faz cair no nada; mas é a porta de entrada numa plenitude que nos escapa agora e que nos é concedida por Deus como Dom, pois a Vida nasce do Amor e alimenta-se e atinge a sua plenitude como Dom.

Os cristãos sentimos a urgência deste anúncio, mas também percebemos que esta verdade sobre Jesus e o Seu Evangelho é a mais inconveniente, incómoda, por ser a mais difícil de aceitar pelos homens e mulheres do nosso tempo e da nossa cultura, que presumem de estar bem informados sobre tudo. O político, cultural e cientificamente correcto, a quem as pessoas do nosso tempo pagam o seu tributo, tornam inadequado acolher esta verdade e a promessa que ela contém. As pessoas preferem ficar com o que conhecem, perdendo a capacidade de abrir a mente e o coração ao novo. Ora, aqui com a ressurreição de Cristo, e da nossa com ele, falamos de qualquer coisa inédita, radicalmente nova, que não podemos criar ou explicar por nós próprios, mas que nos é concedida como Dom.

Que fazer, então, com o anúncio mais urgente e mais incómodo da fé cristã? Não nos resta outra coisa que assumir a via do testemunho. Nas leituras dos Actos aparece a palavra-chave: Vós sois, nós somos testemunhas do encontro com Ele! Não podemos deixar de proclamar (silenciar por causa do culturalmente correcto) que Ele ressuscitou e que está vivo; primeiro, porque o encontramos na nossa vida; segundo, porque Ele está vivo dando sentido e plenitude à nossa vida e à vida de quantos a Ele se abrem, pela Sua Palavra e pelo Seu Espírito.

A palavra do anúncio e o testemunho da vida vão juntos, neste modelo de missão que historicamente foi o primeiro e como tal resta para sempre como pedra-de-toque de todos os outros modelos que os cristãos possam assumir, na diversidade dos tempos e lugares. A celebração pascal, que se conclui agora com o Pentecostes, acresce urgência ao anúncio e renova a beleza do testemunho cristão. 

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