Esse sonho, que atravessa o seu pontificado desde a Evangelii Gaudium, ganhou corpo num processo sinodal global e multiforme, que envolveu todo o Povo de Deus. E foi num quarto de hospital, em 11 de Março deste ano, que o papa lhe deu o seu último impulso: aprovou um caminho de acompanhamento e avaliação da fase de implementação, coordenado pela Secretaria-Geral do Sínodo. Um gesto discreto, mas profético, que sublinha a urgência e a prioridade que Francisco sempre atribuiu à sinodalidade como forma de ser Igreja no século xxi.
O caminho sinodal não é um evento isolado, nem se esgota num documento. Antes, é uma dinâmica eclesial irreversível, que compromete não apenas o presente, mas também o futuro da Igreja. De facto, com a constituição apostólica Episcopalis Communio (2018), o Sínodo dos Bispos passou a estruturar-se em três fases: a preparatória, a de celebração e a de aplicação. Esta última, ainda pouco explorada até agora, ganha agora centralidade.
Esperava-se, para Maio deste ano, a publicação de um documento com orientações práticas para esta fase de implementação. Mas o inesperado interrompeu o calendário: o Papa Francisco faleceu, e o mundo viu nascer um novo pontificado com a eleição do Papa Leão XIV. Milhões de crentes em todo o mundo aguardam uma palavra clara de confirmação, encorajamento e direcção.
A Igreja espera que o novo papa ajude a dar continuidade ao caminho iniciado, confirmando o que foi discernido sinodalmente.
A aplicação das orientações sinodais, a partir do Documento Final, não se limita a adaptar ideias: é um exercício de discernimento concreto, pastoral e comunitário. Porque implementar é escutar de novo, envolver os que participaram, rever caminhos, criar, se necessário, estruturas eclesiais mais participadas. Trata-se, pois, de uma fase nova, mas não separada: é o prolongamento natural de tudo o que foi vivido até aqui. Foi também por isso que Francisco não quis apressar o encerramento do processo: em vez de um documento conclusivo, deixou um itinerário aberto que culminará, em 2028, com uma inédita Assembleia Eclesial. O objectivo não é apenas avaliar o caminho percorrido, mas permitir que a própria forma de ser Igreja se vá transformando à medida que caminha. A sinodalidade não é um método entre outros: é o estilo de uma Igreja que se sabe povo, corpo, comunhão.
A Leão XIV cabe agora o serviço de escutar, discernir e animar a recepção deste processo. Não começa do zero: recebe uma herança viva, feita de escuta, oração, debate, conversão e esperança. A sua missão poderá ser ajudar a Igreja a passar das palavras às práticas, das intenções à realidade, da consulta à co-responsabilidade.
O sínodo não terminou. O que agora começa é a sua recepção. E esta fase não se escreve em Roma: escreve-se na vida concreta de cada comunidade. A hora de caminhar juntos chegou. E não podemos adiar a resposta.