Essa experiência espiritual de «repousar no Coração de Cristo» que algumas pessoas foram vivendo nos séculos passados é apresentada pelo Papa Francisco como algo que também nós podemos viver, se cultivarmos mais a dimensão afectiva da nossa fé.
Santa Catarina de Sena contava que ela se aproximava do coração de Cristo para «compreender os seus segredos». Tratava-se sempre de ver como o Amor que Deus nos tem se manifesta sempre de maneiras novas e surpreendentes (DN, 111).
São Francisco de Sales, que “inventou” a imagem do Sagrado Coração de Jesus, sentia-se convidado a «habitar dentro do Coração de Cristo». Aí ele reforçava a confiança na sua graça e recebia força para realizar a vontade de Deus que ia descobrindo. Ele sentia grande consolação e serenidade pensando que Jesus o levava sempre «dentro do seu coração». Às vezes, São Francisco dizia mesmo que esta experiência era, para ele, a coisa mais importante, o centro, da sua experiência de fé. A alguém ele aconselhava: «Quão amável é o seu coração! Moremos ali, naquele santo domicílio» (DN, 116).
Nos finais do século xviii, Santa Margarida Maria sentia-se convidada por Jesus a aproximar-se do seu Coração para receber o «fogo de amor» que dele transbordava. Recebendo essa abundância de amor, ela podia então deixá-lo «transbordar» para muitas outras pessoas.
Hoje, diríamos que, dessa maneira, a devoção ao Sagrado Coração de Jesus começava já a manifestar uma dimensão missionária: quem se aproxima recebe com abundância o amor de Deus que depois tende a passar para muitas outras pessoas. Amor que vem de Deus e que, através de nós deve enriquecer muitas mais pessoas.
Foi este tipo de amor missionário que São Daniel Comboni viveu de maneira fortíssima. Ele conta que estando a contemplar o coração trespassado de Cristo na cruz, de certo modo entrou nesse coração deixando-se abrasar pelo fogo do amor divino. Sentiu então que essa «chama de amor» orientava o seu olhar para a África, onde pôde ver uma multidão de irmãos e irmãs que continuavam à espera do Evangelho e da fé cristã. Foi a partir dessa experiência que São Daniel foi escrever o seu plano de «salvar a África com a África».
No caso de São Daniel Comboni, a experiência de entrar no Coração de Cristo não só lhe fez sentir a imensidão e o calor do amor de Deus, mas deu-lhe a força e a inspiração para se lançar no anúncio missionário do Evangelho aos povos da África. A devoção ao Coração de Cristo assumiu assim uma clara força missionária.
Repousar no coração de Deus faz-nos certamente experimentar a paz e a serenidade de quem confia plenamente no Senhor, mas dá-nos também a energia e a inspiração para nos lançarmos no anúncio do Evangelho que abre a muitos outros o caminho para essa mesma experiência do amor de Deus.