
O gosto de olhar o coração de Jesus com amor e adoração leva-nos logo ao mistério do Natal. Foi ali que começou a manifestar-se a maneira humana de Deus nos amar.
O Sagrado Coração de Jesus, onde vamos descobrindo o calor e a ternura do amor de Deus, começou por ser o coração daquela criança, deitada na manjedoura de Belém.
Como diz o saudoso Papa Francisco na última carta encíclica que nos deixou: «Este Cristo com o seu coração trespassado e ardente é o mesmo Cristo que por amor nasceu em Belém» (Dilexit nos, 51).
Em Belém aprendemos que Deus não se importa de nos amar com o coração de uma criança. Acreditando, como acreditamos, que, em cada fase da sua vida concreta, desde quando era bebé em Belém, a quando viveu, adolescente e jovem em Nazaré, como também depois na sua vida de adulto, Jesus era sempre plenamente como nós, um ser humano a crescer, e também ele era sempre o «Filho muito amado em quem o Pai põe todo o Seu enlevo» – foi isso mesmo que disse a voz do Pai que se fez ouvir do céu no dia do seu baptismo no rio Jordão, como também, mais tarde, sobre o monte da Transfiguração.
Assim, o amor, o carinho que Jesus vivia e manifestava de tantas maneiras diferentes nos momentos e acontecimentos que ele ia vivendo era sempre o amor de Deus traduzido em gestos e atitudes humanas. Como refere o papa, «o modo como nos ama é algo que Cristo não quis explicar-nos exaustivamente. Mostra-o nos seus gestos. Observando-O, podemos descobrir como trata cada um de nós, mesmo que nos custe perceber isso» (Dilexit nos, 33).
Por isso, o Papa Francisco lembrava-nos que, ao contemplarmos o Sagrado Coração de Jesus, vamos muito além da imagem que temos na frente: vemos como esse amor infinito de Deus se exprimiu de mil formas diferentes ao longo de toda a vida de Jesus, desde a sua infância – faz sorrir de maravilha, que Deus tenha amado com coração de criança, ou com os entusiasmos de um jovem que crescia com Maria e José, em Nazaré. Sempre o mesmo amor que ele manifestou e tentou explicar durante a sua vida pública com os seus gestos e os seus ensinamentos aos discípulos e às multidões.
E era sempre esse mesmo amor divino que se manifestava em forma humana, quando na cruz, viveu até ao fim o que ele mesmo tinha ensinado, «não há maior amor do que dar a vida pelos amigos».
Com o mistério da ressurreição de Jesus, esse coração que amava com o amor de Deus desde a gruta de Belém, passando por Nazaré e Cafarnaum, e chegando até ao Calvário, esse mesmo coração foi transformado na noite de Páscoa, e ficou a pertencer à vida eterna de Cristo ressuscitado.
Meditando este mistério compreendemos que o que Jesus viveu e fez é a proposta que a Igreja continua a fazer hoje a cada um dos seus discípulos: traduzir o amor de Deus Pai em gestos humanos concretos, pequenos ou grandes que sejam.
