Opinião
15 maio 2019

Ligações tecnológicas, implicações sociais

Tempo de leitura: 3 min
Os estudos científicos destacam que as redes sociais podem proporcionar uma sensação de poder, segurança e solidariedade, mas também de isolamento e solidão.
Rita Figueiras
Docente da Universidade Católica
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O Facebook popularizou um novo termo na sociedade, o de «redes sociais». Esta designação tornou-se a forma vulgar de nomear este media social. Enquanto os meios de comunicação social se edificaram num modelo de comunicação vertical, unidireccional e de um para muitos, os media sociais distinguiram-se por serem meios de ligação e interacção entre as pessoas, assentes numa estrutura horizontal de um para muitos e de muitos para muitos em rede.

A expressão «redes sociais» foi, deste modo, associada à Internet, que, de facto, tem uma arquitectura em rede. Todavia, esta associação levou ao esquecimento de algo fundamental: as redes sociais precedem a tecnologia, são parte constitutiva da sociedade e não algo criado por ou dependente de plataformas como o Facebook, cuja retórica foi construída em torno de termos como “amizade” e “amigos”.

Esta plataforma tornou-se numa sala de estar (onde se acompanha a vida dos amigos e se conversa sobre temas do quotidiano), numa tribuna (onde se disserta sobre problemas públicos, tantas vezes com níveis de ódio e ofensas alarmantes), num palco (onde se exibe física e emocionalmente), num parapeito (onde se espreita de modo voyeurista o que se passa na vida de terceiros próximos, conhecidos ou distantes) e, também, num espelho (onde, de modo narcisístico, o emissor se tornou o principal receptor de si próprio).

Os estudos científicos que analisam o modo como as novas mediações tecnológicas reconfiguram o espaço público e o espaço privado, bem como a comunicação interpessoal e os relacionamentos humanos, destacam que as redes sociais podem proporcionar uma sensação de poder, segurança e solidariedade, mas também de isolamento e solidão. Recentemente, investigadores do Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA) analisaram o impacto da Internet nas relações amorosas, de amizade e familiares em adolescentes e jovens dos 16 aos 26 anos. Concluíram que o uso excessivo das redes e da Internet contribui para um sentimento de solidão, ansiedade e depressão, mesmo quando se têm boas relações familiares e sociais. De acordo com os autores do estudo, a comunicação online não proporciona a riqueza sensorial que o cérebro necessita para que se gerem sentimentos de conexão social.
O sentimento de solidão pode, inclusive, gerar um círculo vicioso de dependência das tecnologias de comunicação, porque os utilizadores podem achar que precisam de mais contactos online para ultrapassarem a angústia. 

No âmbito do 53.º Dia Mundial das Comunicações, sob o título «“Somos membros uns dos outros” (Ef 4,25): das comunidades de redes sociais à comunidade humana», a mensagem do Papa Francisco chama a atenção para isto mesmo e alerta para o facto de as redes terem de ser encaradas como complementares e não centrais na vida. É que importa não esquecer que os relacionamentos e os laços sociais são os elementos básicos da experiência humana e que as relações entre as pessoas têm consequências para os indivíduos, a interacção social e as estruturas sociais. Deste modo, estar off pode ser, muitas vezes, a melhor forma de estar on na vida.

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