Sala de convívio
11 novembro 2022

Não homenagem, mas manobra

Tempo de leitura: 1 min
O conde Rambuteau quis, não homenagear o imperador romano, mas afastar da sua meritória criação o seu próprio título nobiliárquico.
Hélder Guégués
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Quando Claude-Philibert Barthelot, conde de Rambuteau (1781-1869), foi prefeito do Sena, em Paris, entre 1833 e 1848, teve a feliz ideia de mandar construir pela cidade urinóis só para homens, pequenas construções, edículas (casinhas) para este fim. A Cidade Luz de certeza que passou então a cheirar menos mal. Logo depois, estes urinóis passaram a ser conhecidos, na boca do povo, como «colonnes Rambuteau» (colunas Rambuteau). Ora, isto era de mais para um nobre. Então, ele mesmo passou a divulgar, e o nome pegou, teve sorte, o nome «colonnes vespasiennes». E porquê colunas vespasianas?, perguntam os meus argutos leitores. Porque, em Roma, muito antes, o imperador Vespasiano (9-79 d. C.), segundo o historiador Suetónio na sua obra De Vita Caesarum (Vida dos Césares), estabelecera um imposto sobre a urina, que era um ingrediente essencial na indústria romana da lavandaria. Daí o título: o conde Rambuteau quis, não homenagear o imperador romano, mas afastar da sua meritória criação o seu próprio título nobiliárquico. Se, em vez de urinóis, as suas construções fossem palácios, decerto não se importaria.

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EDIÇÃO
Abril 2024 - nº 627
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