Narrador: Antigamente, não existiam redes de dormir. Homens e mulheres dormiam no chão em cima de folhas, ou em árvores, como os macacos.
Tamaquaré (para a noiva): Aproxima-se o dia do nosso casamento, Moema, e não quero dormir mais no chão como os outros homens.
Moema: Eu também não quero dormir no alto das árvores. Tenho medo de cair.
Tamaquaré: Vou falar com o tucano. Talvez ele me possa sugerir uma solução.
Moema: Cuidado: o tucano tem o bico curto, mas língua comprida.
Narrador: O Tamaquaré encontrou a ave e fez-lhe um pedido:
Tamaquaré: Tucano, vou casar-me e já não quero dormir no chão, nem pendurado como um macaco. Podes ajudar-me a resolver este problema?
Tucano (depois de pensar muito): Podes trazer-me um monte de trepadeiras cipós?
Tamaquaré: Está bem. Vou buscar.
Tucano: Agora, faz como eu: começa a trançar.
Tamaquaré: Está a ficar bonito e dá gosto ver.
Tucano: Agora, eu ato a esta árvore e tu vais atar àquela. Depois, deita-te na rede.
Tamaquaré (já deitado): É uma maravilha! Muito obrigado! Mas eu não quero que ninguém saiba como consegui a rede. Não contes a ninguém, senão, vou zangar-me contigo!
Narrador: O tucano ficou calado durante algum tempo. Mas, no dia do casamento de Tamaquaré, ele comeu e bebeu tudo o que podia. E, no meio da festa, disse bem alto:
Tucano: O Tamaquaré não vai dormir no chão como os outros! Vai dormir na rede que eu fiz! Vai dormir bem confortável!
Tamaquaré: Se não te calas, castigo-te!
Tucano: Não estou a mentir. Olhem para a rede estendida junto da casa de Tamaquaré e Moema.
Homem da tribo: É maravilhoso!
Mulher da tribo: Estou encantada!
Moema: Não és de confiança, tucano. Vou agarrar-te esse bico e puxar com força.
Tucano: Socorro! Não vês que o meu bico está a crescer?!...
Moema: Agora, com esse bico comprido e grosso, vais deixar de ser linguarudo. Não vais, sequer, conseguir falar. Dirás apenas nhé-nhé-nhé…
Tamaquaré: E que os deuses te façam voar curto.