Sala de convívio
09 maio 2019

Falando de cafés

Tempo de leitura: 4 min
Mário de Sá-Carneiro escreveu um poema dedicado à sua mesa de café.
Alice Vieira
Escritora
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«Minha mesa no café/ quero-lhe tanto… A garrida/ toda de pedra brunida/que linda e fresca que é // Sobre ela posso escrever/ os meus versos prateados/ com estranheza dos criados/que me olham sem perceber…»

Lembrava-me sempre destes versos de cada vez que me sentava à mesa do Toninho, o café mesmo em frente da minha casa. Também eu queria muito à minha mesa – embora fosse de fórmica e não de pedra brunida… –, e ficava danada se alguém a ocupava. O que, diga-se, era raro acontecer: eu entrava naquele café antes das sete da manhã, e a essa hora era raro estar cheio. O Sr. Josué nem perguntava nada, já sabia o que eu queria, e também sabia que eu não iria sair dali tão cedo. Aquela era a minha segunda casa. Lembrava-me de ter lá entrado pela primeira vez com a minha filha ao colo... e a criatura acabou de fazer cinquenta.

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EDIÇÃO
Abril 2024 - nº 627
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