O novo ano escolar no Irão começou no dia 22 de setembro. Entretanto, à medida que os pais preparavam os filhos para o regresso às aulas, os pais dos alunos do quarto ano do ensino básico descobriram algo curioso sobre o livro oficial de matemática para 2020-2021. Se a capa da edição do livro didático de 2019-2020 mostrava meninos e meninas a brincar juntos debaixo de uma árvore, na capa deste ano faltavam as meninas. Muitos pais ficaram incomodados com a modificação e rapidamente recorreram às redes sociais para sugerir as suas próprias capas.
Quando a notícia sobre a nova capa exclusivamente masculina chegou às redes sociais em 9 de setembro, gerou-se uma indignação generalizada. Porque as meninas representam entre 57% e 60% de todos os alunos no Irão. Mais ainda quando a primeira e única mulher a ganhar a Medalha Fields – oficialmente conhecida como Medalha Internacional de Descobrimentos Proeminentes em Matemática –, que é como o Prémio Nobel da Matemática, foi a matemática iraniana Maryam Mirzakhani.
Alguns pais, precisamente, imprimiram uma foto de Maryam Mirzakhani e colaram-na na capa do livro.
A artista iraniana que desenhou a capa original do livro de matemática publicou uma mensagem no Instagram a explicar que ficou chocada com a modificação, e disse que foi feita sem terem o seu consentimento.
Muitas pessoas veem essa ação do Ministério da Educação como o mais recente ataque do governo às mulheres.
As escolas públicas e privadas do Irão são legalmente obrigadas a usar livros aprovados pelo Ministério da Educação, e o conteúdo dos livros deve destacar os «valores e estilos de vida islâmicos».
O líder supremo da República Islâmica do Irão, o aiatola Ali Khamenei, insistiu repetidamente que a educação das meninas não deveria focar-se em disciplinas como Matemática e Ciências.