Teatro*: Para ser lido ou representado.
Personagens: Francisco de Assis. Mãe Terra.
FRANCISCO: Paz e bem! Eu sou Francisco de Assis. Vocês poderão perguntar o que faço aqui. Bem... disseram-me que que há problemas graves na nossa casa comum. Também me informaram que há um papa que escreveu uma carta sobre a Ecologia, um papa chamado Francisco, como eu. Por isso vim, para ver o que está a acontecer com a Irmã Terra e com as suas criaturas...
TERRA: Psst!... Psst!
FRANCISCO: Ouço um zunido... Quem me chama?
TERRA: Eu, Francisco, a tua mãe.
FRANCISCO: Minha mãe, Pica?
TERRA: Não, Francisco. A Mãe Terra.
FRANCISCO: Ah! Olá!!!
TERRA: Encanta-me que me chames assim, porque tu e todos os seres vivos nascem em mim, de mim se alimentam, e, quando se corta o fio da vida, regressam ao meu seio.
FRANCISCO: Mas acho-te triste, Mãe Terra... O que tens?
TERRA: Tu lembras-te, Francisco, quando chegaste, caminhando, ao vale de Rieti, no centro da Itália?
FRANCISCO: Foi o lugar mais bonito que vi na minha vida... Todo verde, exuberante, cercado por montanhas com picos nevados... E as nascentes eram cristalinas, com água limpa e fresca... Um paraíso, Mãe Terra!
TERRA: Eu tinha mil e um paraísos como esse, Francisco. A minha pele verde cobria países inteiros, continentes... Tinha florestas, rios, lagos, vales esplêndidos...
FRANCISCO: Porque dizes «tinha»? O que aconteceu, Mãe Terra?
TERRA: Nos séculos xix e xx, sobretudo, os seres humanos têm contaminado a casa comum... Não sentes o cheiro?
FRANCISCO: Cheira mal, sim... Talvez seja um animal morto...
TERRA: Não, é que aqui bem perto há uma lixeira... Todas as cidades do mundo estão rodeadas por montanhas de lixo, onde se acumulam garrafas, toneladas de plástico, restos de comida...
FRANCISCO: Porque acontece isso, Mãe Terra?
TERRA: Por algo que não existia no teu tempo, Francisco, e a que o Papa Francisco, teu homónimo, chama «cultura do descartável»...
FRANCISCO: Não entendi...
TERRA: Diz-me, Francisco, o que fazia o teu pai quando se rompiam os sapatos?
FRANCISCO: Levava-os ao sapateiro.
TERRA: Hoje, não é assim. São deitados fora. Mais ainda, basta mudar a moda e os sapatos antigos são postos de parte e compram-se novos. Agora, é tudo assim. Usa-se e deita-se fora. De tal modo que, nos últimos quarenta anos, acumulou-se mais lixo do que em toda a história da Humanidade.
FRANCISCO: Não posso acreditar...
TERRA: Roupa, papéis, móveis, pneus, televisores, carros, telefones, computadores... Um escândalo! Agora, muitos produtos são fabricados de modo a avariar rapidamente e não podem ser reparados… E, que horror, deita-se comida fora!
FRANCISCO: Comida? E não há pessoas que passam fome?
TERRA: Sim, há imensa gente! Milhões de crianças deitam-se todas as noites sem pão para a boca. Ao mesmo tempo, quase um terço dos alimentos produzidos no mundo vai parar ao lixo. É um crime, Francisco!
FRANCISCO: Como é possível que façam isso? A comida desperdiçada é alimento roubado da mesa dos pobres!
TERRA: A causa disso é a cultura do descartável, em que as pessoas se pensam no direito de ter tudo, de comprar tudo, e de deitar fora o que não interessa… esquecendo aqueles que nada têm... Essas são as pessoas da cultura do descartável… que acabam, também, por se descartar de outras pessoas.
FRANCISCO: No meu tempo, as coisas eram compradas para toda a vida. Pensava-se, até, em deixar em herança aos filhos e netos. E nós herdávamos roupas, brinquedos...
TERRA: Pensa nisto, amiguinho audaz: há sinais da cultura do descartável na tua terra? Na tua família? Entre os teus amigos? Achas que és consumista? Como te pontuarias, de 1 a 10?
*Adaptado da série radial Laudado Si’ da Rede Eclesial Panamazónica