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Um assombro de música, poesia, iconografia, corpo e espiritualidade. Não é a primeira vez que Rosalía, espanhola da Catalunha, se aventura a cantar a religiosidade e a fé cristã: fê-lo, entre várias outras músicas, com Aunque es de noche, tema de 2017, que toma o poema de São João da Cruz com um ritmo convicto de quem bem sabe «a fonte que mana e corre/ embora seja noite»; ou El Redentor, no disco de estreia, Los Angeles, curto e intenso lamento de Quinta-Feira Santa, com «Sol e lua, eclipsados/ Tremendo com os elementos/ Quando o redentor pediu...»
Agora, com o disco Lux, as referências cristãs começam na capa e continuam na afirmação do corpo como expressão sagrada, na multiplicidade de inspirações musicais (incluindo a ópera e a música clássica, com a Sinfónica de Londres) e de línguas usadas – treze, incluindo o ucraniano, o latim, o alemão, o português (Rosalía canta a canção Memória com a fadista Carminho), o inglês com a islandesa Björk em Berghain (talvez o tema mais poderoso deste disco: «A única forma de nos salvarmos é através da intervenção divina/ A única forma de eu ser salva é através da intervenção divina.» Ou, no primeiro tema: «Se eu pudesse/ Sair desta terra/ Entrar no céu/ E regressar à terra/ Que entre a terra Terra e céu/ Nunca haveria chão./ Se eu pudesse/ Viver entre os dois/ Primeiro amarei o mundo/ E depois amarei a Deus.»

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Uma ode à criação – através do rouxinol e das suas migrações – cantada pelo guitarrista e cantautor italo-britânico Piers Faccini e acompanhada pela enérgica leveza da kora primorosa do maliano Ballaké Sissoko. Our Calling
(“O nosso apelo” ou “a nossa vocação”) é um grande poema em dez andamentos, as peças que compõem o disco. Os textos falam da busca, da «metade de um sonho» que procura um horizonte, da vontade de ser e pertencer, de nos deixarmos levar pelo vento ou pela mão do outro, do Norte e do Sul como levando a todos os lugares.
Sissoko e Faccini já tocaram nos discos um do outro. Aqui, juntam-se (com o violoncelista Vincent Ségal ou outros músicos que tocam ngoni e guembri, instrumentos semelhantes ao alaúde) num disco fascinante e sensível, que nos transporta para a beleza das coisas mais simples, frágeis e ternas – como um rouxinol a voar, por exemplo.
No belíssimo Go Where Tour Eyes (“Vai para onde os olhos...”), escuta-se essa saudade do futuro: «Vai para lado nenhum, destrói estrelas/ Entre a luz através das grades./
/ Vai para lado nenhum/ Para reunir orações até que os ventos estejam favoráveis/ Vai para onde os olhos me desvinculam de ti./ [...] Vai para onde ver é para crer/ Inspirar é sonhar/ Sopre o pó, revele sinais/ tão antigos como o tempo, escondidos na mina/ Vai para lá, moribundo como um sol/ / Desenhando sombras até que estas terminem.»
