Música
15 outubro 2022

Discos

Tempo de leitura: 3 min
Aqui ficam as nossas sugestões musicais deste mês. Dois discos de grande qualidade.
António Marujo
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Uma inspiração para as cantatas de Bach. É assim que Cosimo Stawiarski fala da obra de Georg Christoph Strattner (c. 1645-1704), compositor alemão do século xvii, com relevância na música litúrgica protestante – como aconteceria com o grande mestre, cerca de quatro décadas depois dele. Na apresentação deste disco, o mesmo autor acrescenta que Strattner era «extremamente inovador» e «ao cruzar textos bíblicos com poesia e corais madrigálicos, criou géneros inteiramente novos que estavam em muitos aspectos muito à frente do seu tempo». De facto, ouvimos estes Concertos Sacros de Strattner e por vezes perguntamos se não estamos a ouvir algumas das cantatas ou outras obras de Bach, tendo em conta a harmonia vocal e instrumental que ele imprime em várias das peças aqui tão bem executadas pelo consort alemão de viola da gamba Les Escapades. Nascido em Gols, Strattner trabalhou em Pressburg (hoje Bratislava), Estugarda, Durlach e Frankfurt. Em Durlach, documentos e quase toda a sua música foram destruídos num grande incêndio em 1689. Mas isso não impediu que hoje possamos apreciar o que sobreviveu, na harmonia entre a inspiração bíblica e a música: no júbilo do Salmo 34 ou no penitencial e meditativo «Pai, pequei», inspirada na parábola do filho pródigo. Uma bela revelação para escutar com atenção.

Disco2

 

Título: Ich will den Herrn loben allezeit – Geistliche Konzerte

Autor: Georg Christoph Strattner

Intérpretes: Consort de viola de gamba Les Escapades e outros

https://www.escapades.de/en/kontakt/

 

 

 Disco1

Água a correr ou a cair, toques, passos pressentidos, silêncios, despojamentos. E também ritmos de quem marcha, lamentos, meditações, agonias, afirmações. Ars Moriendi, do violonista e compositor suíço Paul Giger, parte da memória cultural do género literário de livros de devoção do final da Idade Média, dedicados precisamente à ars moriendi, ou seja, à arte de morrer bem, que tentava levar a que a alma morresse de forma a salvar-se para a eternidade, como explica o próprio músico. Nesta obra, Giger toma também uma pintura como o outro ponto de partida: o tríptico Tornar-se – Ser – Passar, do pintor tirolês Giovanni Segantini, que exprime a ideia da transitoriedade, que acaba por ser o fio que liga as diferentes composições, sejam elas originais de Giger inspiradas de Bach (sublinhe-se a versão intensa de Erbarme dich), originais de Giger ou músicas inspiradas no folclore tradicional suíço – desde logo, o primeiro tema, Guggisberglied, que soa como uma introdução ao caminho. Já em Chartres, o primeiro disco de Giger na ECM, essa ideia da transitoriedade e do caminho estava presente, aqui afirma-se de modo vivo. Ou não fosse a música uma ars vivendi, uma arte de viver. 

Título: Ars Moriendi

Autor: Paul Giger

Intérpretes: Paul Giger, Marie-Louise Dähler, Pudi Lehmann, Franz Vitzthum e Carmina Quarteta

Edição: ECM (vendaspt@distrijaz

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