Estou na missão de San Lourenço, no Equador, desde o ano 2022. Inicialmente, foi-me pedido para acompanhar as comunidades indígenas. O povo Chichi, comummente conhecido como Cayapas, encontra-se localizado na zona selvática de Esmeraldas ao Norte do território equatoriano. É um dos poucos grupos que sobrevivem na costa equatoriana, mantendo a sua cultura autóctone e uma organização própria. Geralmente, as suas casas encontram-se ao longo do rio, do mesmo nome Cayapas, e os seus afluentes.
O trabalho missionário nestas terras exige entrega e certo sacrifício, não só espiritual, mas também físico, pois entre a vila e as comunidades dispersas só se chega a pé, entre rios e montanhas. Esta é a missão na qual estou a trabalhar com muita confiança e entrega, sabendo que Deus é o dono da messe e nós, simplesmente somos seus servidores.
O trabalho missionário nestas comunidades indígenas, que tem como finalidade o anúncio do Evangelho, não se restringe à celebração da eucaristia. É uma pastoral diversificada e de proximidade, que inclui, por exemplo, visitas periódicas às famílias e reuniões com crianças e jovens. De facto, aprendi, durante estes três anos no Equador, que a missão é estar com as pessoas. De esta forma, é mais fácil conhecer e compartilhar a realidade das pessoas.
Um aspecto que a mim, como missionário moçambicano nestas terras longínquas das Américas, me está a marcar é a alegria que encontro nestas pessoas. Percebo-a quando as visito nas suas casas, nos encontros periódicos com a comunidade local e, sobretudo, nos momentos de formação cristã que realizamos. É belo ver a alegria nos seus rostos ao acolherem e apreenderem, com muita simplicidade, a Palavra de Deus. Sendo esta a minha primeira experiência de trabalho missionário, sinto-me contente, porque o povo Chichi é muito aberto, sempre disposto a aprender e a partilhar. Esta abertura é fruto de um contacto com muitos missionários que evangelizaram nesta selva equatoriana, anunciando o Evangelho por vários anos, principalmente os Mercedários, que estiveram em toda a província de Esmeraldas antes da presença comboniana.
Quando decidimos optar por uma dinâmica comunitária, que faça florescer uma fé viva e activa, é fundamental apostar na formação dos jovens. Procurámos estar com a juventude chachi, para escutar as suas inquietudes, conhecer e entender a sua cultura e as suas preocupações e, desde a fé cristã, dar respostas às suas inquietudes e expectativas. Nesse sentido, são propostas formações básicas sobre o Cristianismo, retiros zonais, tardes de convívio para fomentar a socialização e o intercâmbio de experiências, actividades desportivas. Em geral, os jovens destas comunidades indígenas não costumam reunir-se com outras comunidades. Primeiro, pelas distâncias entre elas, segundo, pela autonomia das comunidades, pois o chefe de cada comunidade é que estabelece a organização das actividades na comunidade. Graças a Deus, para as actividades formativas juvenis nas comunidades indígenas sempre tivemos o apoio dos chefes comunais e a participação activa da mesma comunidade.
Um dos lemas do nosso fundador Daniel Comboni foi «salvar África com África». Na minha experiência de missão nestas terras do Equador, e sobretudo, com uma pastoral específica com os povos indígenas, procuramos aplicar esta visão, na medida em que todas as iniciativas e trabalhos que realizámos têm em vista uma maior consciencialização da juventude indígena chachi, incentivando-os a terem um papel de protagonistas na sua realidade concreta. Muitas vezes esta consciencialização encontra obstáculos, pois as grandes empresas mineiras e madeireiras procuram aliciar a juventude com promessas falsas e eles, algumas vezes, em vez de lutar pelo bem da sua comunidade optam pelos interesses desses grupos e os seus próprios benefícios. Esquececem-se das consequências da destruição dos ecossistemas, da poluição dos rios, do desmatamento sem controlo na vida e na sobrevivência das comunidades indígenas. Só é possível sonhar com mudanças com a execução de programas de formação integral, que considera os aspectos humanos e cristãos, na linha das propostas da encíclica Laudato Si’ do Papa Francisco. Essa é uma das nossas tarefas no trabalho com os jovens e as comunidades indígenas.