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04 outubro 2019

Viagem de Francisco a África

Tempo de leitura: 8 min
O papa abençoou as tentativas de paz num Moçambique ferido pela guerra. Ficou chocado e consternado com a extrema pobreza de Antananarivo, mas também tocado pela alegria contagiante da mesma gente que sobrevive na miséria. E louvou o clima de integração que se respira na Maurícia.
Domenico Agasso
Vaticanista do «La Stampa»
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A noite é particularmente escura pelas ruas de Maputo. Sobretudo na periferia. Mas a escassa iluminação não esconde os sinais da degradação, entre casas, edifícios e lojas danificadas. Mas, também não esconde o entusiasmo dos moçambicanos que se disseminaram aos milhares pelas ruas da capital, formando sempre duas alas de multidão colorida, dançante e jubilosa à volta do papamóvel. Francisco aterrou em Moçambique sobretudo para exprimir «proximidade e solidariedade» com as vítimas dos ciclones Idai e Kenneth, que em Março e Abril provocaram mais de 600 vítimas e, além disso, pôs de joelhos a economia do país, já chagado pelas violências dos islamitas radicais do Al-Shabaab, pela corrupção e desigualdades. Por isso, o papa, no seu discurso às autoridades no palácio de Ponta Vermelha, solicitou «a necessária reconstrução».

Bergoglio esteve em Moçambique também para «abençoar» a paz. A 6 de Agosto foi assinado o acordo entre o Governo e a oposição que pôs fim às hostilidades militares. A rubrica integra e põe em marcha o histórico «Acordo geral» de 1992 sancionado em Roma com a mediação da Comunidade de Santo Egídio – em particular com o fundador Andrea Riccardi – e do Governo italiano: o pacto pusera fim a uma guerra civil que tinha causado um milhão de vítimas. Para o papa, o aperto de mão de Agosto é «uma pedra miliar, esperamos decisiva». Francisco convida a consolidar o processo de reconciliação. Em todos estes anos, lembra Bergoglio, «tendes experimentado que a procura da paz duradoira – uma missão que envolve todos – exige um trabalho árduo, constante, sem descanso, porque a paz é como uma flor frágil, que procura desabrochar entre as pedras da violência», e é preciso «que se continue a afirmar com determinação mas sem fanatismo, com coragem mas sem exaltação, com tenacidade mas de maneira inteligente».

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