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14 janeiro 2020

Burundi: Um país a meia haste

Tempo de leitura: 11 min
A poucos meses das eleições presidenciais e legislativas, previstas para Maio de 2020, o país continua mergulhado numa crise sociopolítica que começou em 2015.
Enrique Bayo
Missionário comboniano
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Segundo o Relógio da Pobreza Mundial, 77,2% dos Burundianos vivem abaixo do limiar da pobreza. O Índice de Desenvolvimento Humano situa o país no 185.º lugar num total de 189. Se o Burundi é hoje um dos países mais pobres do mundo é porque desde a sua independência, em 1962, mal conheceu períodos de estabilidade social e política. Assim o mostram as repetidas violências de carácter étnico-político entre Tutsis e Hutus, ou a guerra civil iniciada em 1993, que deixou pelo caminho à volta de 300 000 mortos, e que terminou com os acordos de paz de 2005. O processo de transição política posto em marcha com a assinatura do Acordo de Arusha (Tanzânia) de 2000 pretendia estabelecer as bases de um futuro de harmonia que parece atrasar-se. A chegada ao poder, em 2005, de Pierre Nkurunziza, a sua contestada reeleição em 2010 e a sua deriva autoritária não ajudam muito. Em 2015, o presidente, desafiando a clareza do texto constitucional, decidiu apresentar-se a um terceiro mandato, o que reactivou o ciclo da violência com um golpe de Estado falhado, mais de 1200 mortos e 430 mil pessoas que tiveram de fugir do seu país. Segundo o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), nesse ano, 2015, cerca de 3,6 milhões de burundianos precisaram de ajuda humanitária.

Contudo, Nkurunziza e o partido no governo, o Conselho Nacional para a Defesa da Democracia-Forças para a Democracia (CNDD-FDD), não deram o braço a torcer. Em Dezembro de 2017, anunciaram a realização de um referendo para abordar a reforma constitucional que tornasse possível a reeleição de Nkurunziza até 2034. O novo ciclo de contestação e de polarização política não impediu que a votação ocorresse a 17 de Maio de 2018, com 73% de votantes a favor da proposta do Governo. Uns dias mais tarde, Nkurunziza surpreendeu com o anúncio de que não optaria pela presidência em 2020, decisão que ajudou a mitigar a crise sociopolítica, mas não a acabar com ela.

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