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01 abril 2020

O coronavírus visita o Togo

Tempo de leitura: 6 min
A situação no país africano não é alarmante, mas a questão tem de ser acompanhada e levada muito a sério porque, se a pandemia transbordar, as consequências podem ser muito graves devido à escassez de meios.
Juan Tenías, missionário comboniano
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A notícia, recebida como uma anedota de um país distante, fez-se tragédia rapidamente. Tragédia, monstro e medo! O pavio acendeu-se em Dezembro passado na cidade chinesa de Wuhan, como pólvora, face ao descuido e à impotência, mesmo dos países mais prevenidos e preparados.

Como podemos deixar de nos lembrar, por exemplo, dos memes e piadas publicados nos meios de comunicação – e vistos deste meu canto africano – sobre o hospital com capacidade para mil doentes construído em tempo recorde em Wuhan! E quando quisemos reagir, já tínhamos o monstro dentro de casa com as consequências que estamos a viver.

Infelizmente, a chamada covid-19, trouxe-nos este vírus louco que ainda está à solta, também bateu às portas do nosso país, o Togo, e dos países vizinhos, sem aviso prévio para estar presente nos primeiros casos detectados.

Tendo em conta as medidas tomadas pelos países europeus mais afectados, as nossas autoridades togolesas fizeram o seu primeiro comunicado no passado dia 16 de Março com uma série de medidas e conselhos a seguir. Entre eles, o controlo ou suspensão de voos com os países mais afectados pelo vírus, o cancelamento de todos os eventos internacionais agendados no país, a proibição de reuniões de mais de 100 pessoas... além dos cuidados pessoais, que incluem lavar as mãos com frequência, não tocar, não apertar as mãos ou abraçar, respeitar a distância mínima de um metro com o interlocutor, etc.

No dia 16 de Março, a Conferência dos Bispos do Togo (CET) emitiu um comunicado em que convidava a «seguir escrupulosamente as indicações que as autoridades sanitárias do país já tomaram em consideração e as disposições que serão forçadas a tomar para prevenir e combater o coronavírus». Em concreto, para as celebrações da missa e de outras reuniões litúrgicas, os bispos tomaram as seguintes medidas: suprimir o gesto de paz, receber a comunhão na mão, lavar cuidadosamente as mãos antes da distribuição da comunhão e suprimir o uso de água benta. O comunicado terminou com o convite dos bispos para estarmos muito vigilantes, mas serenos, e recomendou a oração proposta pelo SCEAM (Simpósio das Conferências de África e Madagáscar) para toda a Igreja em África.

Mais uma vez, no dia 19, Solenidade de São José, a CET publica um novo comunicado com uma série de medidas complementares ao que tinha sido publicado a 16 de Março. A saber: suspensão das missas de domingo, celebrações semanais não devem exceder 50 pessoas... e a limitação de todas as outras celebrações litúrgicas, sacramentais e catequeses, entre outras. E mais uma vez os bispos convidaram todos os fiéis «a viver este momento com fé, confiança e na esperança da rápida erradicação do coronavírus».

Os acontecimentos precipitam-se e, no dia seguinte, 20 de Março, foi tornado público um novo comunicado governamental com novas disposições complementares «para evitar a propagação da epidemia de coronavírus». Nomeadamente, encerramento das fronteiras terrestres durante duas semanas, o bloqueio das cidades de Lomé, Tsevié, Kpalimé e Sokodé, proibição de frequentar as praias ao longo de toda a costa, o encerramento por um mês de locais de culto, igrejas e mesquitas desde o dia 21, o encerramento imediato de todas as escolas públicas, privadas, confessionais e universitárias por três meses, suspensão de todas as actividades culturais e desportivas, ou encerramento imediato de discotecas em todo o território nacional. Por último, o Governo de Faure Gnassingbé convidou a população a ter mais cautela nos locais públicos e durante as actividades sociais, nomeadamente o respeito pelas medidas de higiene aconselhadas e a limitar os deslocamentos não essenciais. «Qualquer infractor destas medidas está sujeito a sanções severas».

E nesta situação, querendo ser fiel e respeitando todas as indicações governamentais e religiosas, também me encontro eu, missionário comboniano, em isolamento com outros oito companheiros na residência provincial de Lomé, a capital.

Neste momento, a situação no país não é alarmante, mas a questão tem de ser acompanhada e levada muito a sério porque, se a pandemia transbordar, as consequências podem ser semelhantes às que se vivem hoje em Itália ou Espanha, ou ainda mais graves devido à escassez de meios. Na minha opinião, tudo dependerá se a população aceita ou não estas precauções com responsabilidade.

No dia 30 de Março, o Governo togolês, através da página de Internet para a monitorização da pandemia, refere que há 34 casos registados no país, dos quais 23 permanecem em tratamento, 10 foram curados e apenas um falecido foi registado.

Concluindo estas linhas e sempre contando com uma manhã livre do coronavírus, vem-me à mente aquele ditado da sabedoria popular, que nunca falha: «A quem trabalha, Deus ajuda».

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Abril 2024 - nº 745
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