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17 dezembro 2022

Os «estragos» que a JMJ faz na vida dos jovens!

Tempo de leitura: 7 min
As Jornadas Mundiais da Juventude são, para muitos jovens, uma ocasião para um encontro profundo com Jesus Cristo e mudar as suas vidas.
P. Filipe Resende
Missionário comboniano
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(© JMJ Panamá 2019)

  

A Jornada Mundial da Juventude (JMJ) está à porta. A peregrinação dos símbolos da JMJ pelas dioceses de Portugal está a fazer-nos perceber que este é de verdade um tempo de bênção e de graça.

Há uns tempos ouvi um colega padre dizer: «Ah! Isso da JMJ é apenas um festival. Mas não deixa muito de diferente na vida dos jovens! Tanta festa e tanto forrobodó, mas que passa pouco disso!»

Claro que não concordei com tal afirmação. Sabia de muitas histórias de jovens que experienciaram autênticos encontros com Jesus Cristo. Essa foi também a minha experiência no longínquo 1989, por ocasião da JMJ89 realizada em Santiago de Compostela. Mas… não é da minha história que te quero falar hoje. Falo-te de um testemunho bem mais recente!

Voltar à casa do Pai

Há umas semanas tive a oportunidade de participar numa reunião em Cracóvia, na Polónia, escutando testemunhos da experiência que foi organizar a JMJ 2016, precisamente nesta cidade da Polónia. Entre os testemunhos, escutei este que hoje te trago da Bárbara Chmiel. É de verdade um exemplo bem vivo e bem recente que a JMJ é bem mais do que apenas um festival ou um evento superficial. Deixo-te aqui de seguida o seu testemunho incrível.

«Olá! Eu sou a Bárbara, mas aqui na Polónia chamam-me Basha. Tenho 21 anos e vivo em Cracóvia. A peregrinação JMJ do Panamá em 2019 mudou para sempre a minha vida. Se calhar isto soa-te a clichê, mas deixa-me dizer-te que a minha vida antes do Panamá era de morrer... mesmo! De facto, tentei suicidar-me. Aos 17 anos a minha vida era um inferno do qual não sabia como sair. Fui para a cama com vários dos meus amigos e depressa me cansei do sexo. Mas ia na onda.

Com esta idade, os meus amigos e amigas só queriam que curtíssemos a vida. Noitadas, bebedeiras, asneiras de todo o tipo. Chegámos mesmo a passar algumas noites na prisão.

Como é que tudo isto começou? Não sei bem. A minha família era uma família tradicional cristã e católica como muitas aqui na Polónia. Não deixei nunca de ir ao domingo à igreja, mas confesso que o fazia pela tradição e para agradar aos meus pais. Aquela maneira de eles se relacionarem com Deus não me dizia nada, mas… não sabia porquê (hoje já sei!) mas o facto é que nunca deixei de ir à igreja ao domingo. Creio que os meus pais tinham deixado em mim uma semente que eu guardei bem guardada, mas que estava lá embora escondida. Vivia estes anos revoltada, rebelde, à procura de mim mesma e de sentido para a vida. Apesar de não estar contente com o rumo que a minha vida tinha levado, não sabia como mudar. Sentia-me tão infeliz, que entrei numa depressão muito profunda. No meio desta insatisfação, no meio desta tristeza, sentia que Deus estava muito longe de mim. Mais: tinha entrado numa espiral de uma vida tão podre que pensei que Deus nem sequer podia olhar para mim.

 

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(© JMJ Panamá 2019)

 

Por altura da JMJ aqui em Cracóvia em 2016, o meu mundo tinha outras andanças. Não me recordo de nada significativo da JMJ aqui na minha cidade natal. Porém, um ano antes da JMJ no Panamá, em 2019, o pároco da minha paróquia telefonou-me a convidar-me a participar na JMJ no Panamá.

Confesso que não sei porque é que me convidou. Ou melhor: hoje sei! Na altura, eu não pertencia ao grupo de jovens e andava muito longe dos ambientes e do estilo de vida dos jovens da paróquia. Entre sexo, marijuana e álcool, nem eu sabia porque disse sim. Foi nessa altura que me tentei suicidar. Depois de recuperar no hospital, a depressão acentuou-se, mas fui sendo ajudada por um psicólogo e medicação até praticamente à altura de partir para a JMJ no Panamá. Eu pensei que seriam duas semanas longe desta vida vazia que eu vivia. E por isso talvez tenha aceitado ir para um lugar diferente pelo menos por algum tempo. Umas férias. Mal eu sabia que aqui seria o início do meu retorno à casa do Pai. Hoje não posso viver sem Cristo e sem a minha comunidade cristã. Naquela altura o Pai de amor e misericórdia fez uma grande festa porque eu andava perdida e encontrei-me. Graças à JMJ encontrei o meu lugar na igreja».

Uma experiência de acolhimento e de amor devolveu-lhe a vida

A experiência da Barbara no Panamá mudou-lhe a vida porque ali ela sentiu e percebeu que Cristo presente naqueles milhões de jovens como ela a queria abraçar. Aqueles jovens teriam todos também as suas histórias de vida como ela. Mais problemáticas, mais ou menos escuras, mais ou menos vazias. Mas a todos Jesus queria abraçar e acolher. Assim, como eram e onde estavam. Foi o sentir que não era julgada, que não era apontada com o dedo e sobretudo que era imensamente amada na sua fragilidade por Deus, que lhe mudou a vida, disse-me ela nesse encontro em Cracóvia. Foi o experimentar a alegria pelas ruas do Panamá – aquela alegria que não vinha do sexo casual, nem do álcool, nem da droga. Mas uma alegria genuína do coração daqueles milhares de jovens apaixonados por Jesus a quem Ele amou primeiro. Foi a vivência da alegria, da fraternidade, do amor incondicional, do não julgar e do sentir-se acolhida de novo nos braços do Pai que mudou a vida da Basha.

E, ao contrário do que o meu colega sem saber dizia, há milhares de Bashas nos 35 anos de história da JMJ. Essa foi a importância da JMJ para a Basha. Qual a importância da JMJ para ti hoje?

Ah! E já agora: um feliz Natal para todos vós – a festa da Alegria por excelência! 

 

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