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06 abril 2023

JMJ23: Um rasto de luz e esperança

Tempo de leitura: 11 min
A peregrinação dos símbolos da JMJ é um convite ao encontro com Jesus Cristo, num ambiente de fraternidade, renovando a nossa vocação de discípulos missionários.
P. Filipe Resende
Missionário comboniano
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(© JMJLisboa2023.org)

 

No documento Fundamento Teológico da Jornada Mundial Juventude (JMJ) Lisboa 2023, disponível online, encontramos o sonho que a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) tem para a realização da JMJ Lisboa 2023: «Que a Jornada Mundial da Juventude em Portugal seja um forte momento de graça para todos os jovens renovarem o dinamismo da sua vocação, respondendo ao convite de Jesus Cristo a serem autênticos discípulos missionários na vida da Igreja e da sociedade.» Eis aqui onde todos queremos chegar neste processo que é a JMJ! Segundo as várias dezenas de testemunhos que já recolhemos na Rádio JIM (https://radio.jim.pt) muito se está a realizar neste sentido.

Um forte momento de Graça para todos os jovens

São muitos os testemunhos que provam que a peregrinação dos símbolos da JMJ23 pelas várias dioceses de Portugal está a tocar a vida e o coração de muitos jovens e menos jovens. Neste mês de Abril, os símbolos encontram-se na diocese de Coimbra.

Os momentos de visita às escolas e universidades nas várias dioceses são prova desta abertura a todos os jovens. Foram vários os jovens que nos testemunharam sentirem um orgulho sadio e humilde ao ver que os seus colegas, normalmente ausentes de eventos religiosos, sentiam um entusiasmo forte e partilhavam uma alegria profunda na presença destas iniciativas da passagem dos símbolos da JMJ23. Aconteceu nas universidades e em centros educacionais em Braga. Foi vivido em várias escolas secundárias da diocese de Viana do Castelo. Os centros escolares visitados nas dioceses do Porto e Setúbal fizeram cair o medo de que a tendência de secularização nos ambientes públicos impedisse a presença destes símbolos nestes espaços. «Simbolizam muito mais do que apenas a religião católica!» respondeu-me um jovem quando lhe perguntava precisamente se as iniciativas tinham sido bem acolhidas. «Simbolizam para mim e para o nosso Comité Organizador Arciprestral (COA) muito mais do que a fé católica: simbolizam a fraternidade e que eles não são pertença de uma religião, mas do mundo! Estes símbolos para nós trazem-nos união. E, sobretudo, que Deus está sempre perto de todos os jovens, cristãos ou não cristãos, crentes ou não! E isso foi sentido aqui nesta visita à nossa universidade!», expressou o Miguel, aluno de uma das universidades de Braga, depois de os símbolos terem estado em centros comerciais em Guimarães e antes também em Setúbal.

Esta é precisamente uma das dimensões que uma JMJ deseja: que a vivência da fraternidade toque o coração de todos os jovens. Por isso, erradamente, se diz que a JMJ é um encontro mundial dos jovens com o papa. A JMJ é, antes de tudo, parafraseando o Papa Francisco num vídeo enviado há meses aos participantes da JMJ, um encontro pessoal com Jesus Cristo num ambiente de fraternidade. E por isso, tem de ser um encontro aberto a todos os que, confraternizando com outros milhares e milhares de jovens, através de mil e uma formas de viver a fé em Jesus Cristo, possam chegar a perceber que o encontro com Jesus Cristo através da convivência com outros jovens pode, de verdade, mudar-lhes a vida!

Símbolos da JMJ para fora da Igreja

No sonho partilhado pela CEP faz parte o desejo de que esta JMJ seja para os jovens uma renovação do dinamismo da sua própria vocação. E a vocação fundamental de cada baptizado é reconhecer que cada um de nós é chamado a amar a Deus através de um chamamento pessoal e que passa sempre por uma resposta fraterna. A vocação não é um título pessoal, não é um doutoramento que se alcança depois de anos de estudo, não é uma posição na hierarquia social. A vocação é um serviço ao mundo para contribuir na construção de uma humanidade mais parecida com o sonho de Deus de uma sociedade fraterna e universal. E é aqui que todos temos espaço. Ninguém fica de fora. Ninguém pode ser dispensado desta vocação à Vida.

Ao longo destes meses temos testemunhado que esta dimensão fraterna, inclusiva e humanitária, está presente de uma forma muito forte e marcante nas actividades da peregrinação dos símbolos da JMJ23. Provam-no o facto de que, de uma forma muito geral, os organizadores das actividades querem «os símbolos fora da Igreja!» Explico-me. A expressão é de um sacerdote da diocese de Setúbal que procurou inculcar este mote em toda a equipa para dizer que os símbolos têm de chegar a todos aqueles que normalmente não vêm à igreja. Os símbolos têm de sair da Igreja, muito em linha com o pensamento e o pedido do Papa Francisco que pede uma “Igreja em saída!”

Esta tem sido uma constante nas muitas actividades realizadas durante a peregrinação dos símbolos pelas dioceses. Permitam-me que partilhe convosco uma actividade muito significativa que aconteceu na diocese de Aveiro, em Oiã. No grupo de programação do COA de Oliveira do Bairro, surgiu a ideia de fazer chegar os símbolos a dois acampamentos ciganos desta localidade. A ideia, de acordo com o João, era dupla: desafiar a comunidade cristã local a questionar os preconceitos étnicos que temos em relação a esta comunidade e dar um sinal de inclusão e de aproximação com estes nossos irmãos, pois também eles têm o direito a saber-se amados por Deus.

 

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 (© JMJLisboa2023.org)

 

Uma outra dinâmica muito comum em todas as actividades da peregrinação dos símbolos é a visita a instituições de solidariedade social: lares e centros de acolhimento a pessoas com deficiência. Aqui têm-se vivido momentos de profundo encontro com o amor de Deus para com os mais empobrecidos. Recordo a partilha da Andreia, de Viana do Castelo, que dizia que ali percebeu concretamente o que quer dizer um Deus que está sempre do lado dos mais fracos. Na visita que fez a um centro de acolhimento de pessoas com deficiência, ao ver a alegria estampada no rosto destes nossos irmãos, percebeu o que tantas vezes ouve dizer de que Deus tem uma preferência especial pelos pobres e desfavorecidos. Foi ali, naquele momento, que percebeu de uma forma muito concreta o significado real e humano, experiencial, destas palavras.

Partilho, ainda, um momento forte nas peregrinações de Viana do Castelo e Braga que foram as visitas feitas a estabelecimentos prisionais.

O Bruno dizia-me que quando se pôs a possibilidade de visitar e levar os símbolos da JMJ ao estabelecimento prisional, pensou logo que «seríamos nós os jovens a levar carinho e conforto a estas pessoas privadas da sua liberdade por crimes e delitos que tenham praticado. E até pensei que fossem receber-nos com desconfiança e arrogância. Como eu estava enganado!» O jovem conta que este momento foi de facto um kairós para ele, isto é, um encontro consigo mesmo, diante de todos os seus estereótipos e preconceitos e como ele os devia corrigir. «No final, quando chegámos à prisão, estes reclusos mostraram-nos um humanismo tão digno de um ser humano, uma profundidade espiritual de acolhimento destes símbolos, que me ensinaram algo que levo para toda a minha vida: o amor transforma corações, transforma vidas!» O jovem ficou impressionado com tudo o que os reclusos tinham preparado para aquele momento, desde uma adaptação do refrão do hino da JMJ mais ajustada à sua situação de reclusos (uma vez que não vão poder estar em Lisboa em Agosto), ao toque na Cruz e às palavras que alguns proferiram: «Jesus, eu já me arrependi do que cometi, mas acima de tudo acredito e creio no amor do teu perdão!»

Jovens discípulos missionários

O sonho da CEP para a realização da JMJ23 é ainda este: «Responder ao convite de Jesus Cristo a serem autênticos discípulos missionários na vida da Igreja e da sociedade.» É um apelo renovado a encontrar-se com a pessoa de Jesus Cristo, olhar para o que Ele fez, como o fez e com quem o fez. E, depois, imitar o Mestre. É a isto que chamamos de ser autênticos discípulos missionários.

Creio que, pelos exemplos que partilhei convosco dos ecos que vamos recolhendo da peregrinação dos símbolos da JMJ, podemos dizer que o sonho da CEP está realmente a acontecer: há jovens a encontrar-se com Jesus Cristo, há muitos a sentirem o chamamento renovado e dinâmico de servir a Igreja e a sociedade na construção do sonho de Deus de um mundo mais fraterno, mais humano e mais inclusivo, respeitador das diferenças sociais e étnicas, num dinamismo de congregar esforços para que cada menos seres humanos vivam nas margens discriminadas da Igreja e da sociedade. 

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