Opinião
01 março 2024

A paz, dom do Ressuscitado

Tempo de leitura: 4 min
Que o Espírito do Ressuscitado sopre sobre nós e nos faça sonhar com uma nova aurora de esperança, em que a Humanidade escolha a paz.
Bernardino Frutuoso
Director
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(© 123RF)

 

Neste mês, celebramos o acontecimento central que fundamenta a nossa fé e a vida da Igreja: o mistério da paixão, morte e ressurreição de Jesus. Sabemos que Jesus de Nazaré, o príncipe da paz (Is 9,6), anunciou o Reino de Deus para todas as pessoas e as suas palavras e acções proféticas e misericordiosas em favor dos excluídos do seu tempo – designadamente as mulheres, os estrangeiros, doentes, publicanos – fizeram realidade esse sonho messiânico de um novo céu e uma nova terra. A pregação de Jesus, de um Deus que é amor e só amor, foi a causa principal da perseguição protagonizada pelos doutores da lei e pelos sacerdotes do templo, que o queriam silenciar. Jesus manteve-se fiel ao projecto de Deus e à sua missão e, por isso, acabou condenado e crucificado. Mas Deus rompeu «os grilhões da morte» (Actos 2,24) e a vida triunfou: o Crucificado ressuscitou! Foi essa boa notícia que as mulheres corajosas que foram ao sepulcro no domingo de madrugada acolheram e comunicaram com alegria aos discípulos, que estavam receosos e convencidos do fracasso de Jesus. Inicialmente, eles não acreditaram nas palavras de Maria Madalena e das outras mulheres que estavam com ela (cf. Lc 24, 9-11), mas o Espírito abriu-lhes a mente e o coração, aumentou-lhes a fé e colocou-os em estado de missão.

Cristo, o Vivente, apareceu também a muitos discípulos e saúdou-os com estas palavras: «A paz esteja convosco» (cf. Jo 20,19.26). Disse-lhes que fossem pessoas de paz, seguindo as suas pegadas. Como refere o Papa Francisco, «a paz do Senhor não segue as estratégias do mundo, que crê obter a paz através da força, mediante a conquista e o domínio sobre os demais. Este tipo de paz, na realidade, é só um intervalo entre guerras. A paz do Senhor segue o caminho da mansidão e da entrega de si mesmo na cruz. Deste modo trouxe-nos a libertação do pecado e a verdadeira paz. As “armas” do Evangelho são a oração, a ternura, o amor gratuito ao próximo» (Audiência geral, 13 de Abril de 2022).

Essa paz evangélica, dom do Senhor, é a que os discípulos missionários de Jesus estamos chamados a construir. Infelizmente, este ano, uma vez mais, a celebração da Páscoa será assombrada pela guerra. No ano de 2023, verificaram-se 193 conflitos regionais e locais – o maior número das últimas três décadas, segundo o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos. Muitas destas guerras prosseguem e há o risco de outras começarem em 2024 (ver páginas 16-25). Uma das que continua é na Ucrânia, tendo-se cumprido no passado dia 24 de Fevereiro dois anos da invasão russa. A mediatização do conflito permite-nos conhecer os rastos da destruição, as mortes dos civis – mais de 10 mil vítimas –, o drama dos que são obrigado a fugir – 10 milhões de deslocados, dos quais 6,4 milhões são refugiados no estrangeiro – e os testemunhos de dor, coragem e resistência heróica do povo ucraniano (relatados com maestria por Cândida Pinto na obra Ucrânia Insubmissa).

«A guerra é sempre uma derrota», repete o Papa Francisco sem cessar, lançando apelos comoventes em favor da paz no mundo. «A paz é possível, a paz é necessária, a paz é a principal responsabilidade de todos», sublinha o Santo Padre. Que o Espírito do Ressuscitado sopre sobre nós e nos faça sonhar com uma nova aurora de esperança, em que a Humanidade escolha a paz.

 

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Editorial
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EDIÇÃO
Abril 2024 - nº 745
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