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O Papa Francisco partiu para a Casa do Pai no passado dia 21 de Abril. Desde esse dia, e até à eleição de Leão XIV, cresceram a expectativas sobre o futuro do papado e o fluxo comunicativo centrou-se no Vaticano. Milhões de pessoas seguiram nos meios de comunicação social e redes sociais as cerimónias fúnebres de Francisco na Basílica de São Pedro e no conclave. Imagens rituais seculares que se mantêm vigentes e tanto chamam a atenção na era da cultura do espectáculo. Não obstante, as pessoas, especialmente os crentes, procuravam também acompanhar este processo com a oração, pedindo a intercessão do Espírito Santo – que nunca se engana – e pediram a Deus um papa para a nossa época, que seja um bom pastor e uma voz profética ante os grandes desafios que enfrenta a Humanidade.
A 8 de Maio, segundo dia do conclave, na quarta votação, o fumo branco começou a sair da chaminé instalada na Capela Sistina, anunciando que a Igreja tinha um novo papa. Os 133 cardeais, oriundos de 71 países (o que expressa bem a dimensão missionária da Igreja e a diversidade e a complexidade do poliedro eclesial), tinham elegido rapidamente, com sentido de união e comunhão, o 267.o sucessor de São Pedro: o cardeal Robert Francis Prevost, originário dos Estados Unidos e religioso da Ordem de Santo Agostinho, que optou pelo nome de Leão XIV. Uma escolha que evoca Leão XIII, o papa da Doutrina Social da Igreja, que soube responder aos desafios da Revolução Industrial colocando no centro a dignidade dos trabalhadores. Agora, o Papa Leão XIV procura discernir os sinais dos tempos no contexto desafiante das novas revoluções sociopolíticas e económicas, que se movem entre a inteligência artificial – ver página 11 –, as migrações, as alterações climáticas, a Terceira Guerra Mundial aos bochechos...
Damos graças a Deus pelo dom do Papa Leão XIV – ver páginas 16-29. O bispo de Roma vem da missão, pois esteve no Peru como missionário durante duas décadas, país latino-americano onde se naturalizou e teve de se adaptar a uma nova cultura, a uma nova língua e à dura realidade dos empobrecidos. Temos um papa missionário, que, da sua primeira saudação da varanda central da Basílica de São Pedro, referiu que devemos caminhar unidos buscando «sempre a paz, a justiça, esforçando-se por trabalhar como homens e mulheres fiéis a Jesus Cristo, sem medo, para anunciar o Evangelho, para ser missionários». Procurando juntos «o modo de ser uma Igreja missionária, uma Igreja que constrói pontes, que constrói o diálogo, sempre aberta para acolher a todos, como esta Praça, de braços abertos, a todos aqueles que precisam da nossa caridade, da nossa presença, de diálogo e de amor». Sendo «uma Igreja sinodal, uma Igreja que caminha, uma Igreja que procura sempre a paz, que procura sempre a caridade, que procura sempre estar próxima, sobretudo dos que sofrem». E ainda que, obviamente, Leão XIV não é Francisco, estas suas palavras sintetizam bem o legado do papa argentino: ser uma Igreja missionária, sinodal, aberta, que constrói pontes e sempre disposta a sair ao encontro das periferias humanas e existenciais.