Opinião
11 setembro 2025

A missão faz a Igreja

Tempo de leitura: 4 min
A Igreja faz a missão e a missão faz a Igreja, atraindo mais pessoas para a comunhão com Jesus
P. José Rebelo
Missionário comboniano
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Quando, em 1995, me tornei pároco na África do Sul, concretamente em Glen Cowie, uma paróquia rural com 40 comunidades cristãs, no que hoje é a Província do Limpopo, e na altura era parte de um bantustão, quis empoderar e envolver ainda mais os leigos nas dinâmicas pastorais.
Eu quis começar pelo Conselho Pastoral, para que, na medida do possível, eles ajudassem na definição das linhas de acção. Ao início, os membros quiseram certificar-se de que o meu estilo sinodal fosse genuíno. Mas, quando perceberam que eu queria verdadeiramente saber a sua opinião, sobretudo sobre aspectos que tinham grande incidência cultural, então perderam o receio de partilhar as suas ideias e sentiram-se mais protagonistas da missão da Igreja. 

Evoco esta experiência para apresentar o tema das Jornadas Missionárias deste ano que, como habitualmente, irão decorrer em Fátima, sobre a relação entre a sinodalidade e a missão.
A sua finalidade é perceber que a missão é constitutiva da Igreja e, por isso, é um dos pilares centrais da sinodalidade; e que as dinâmicas de comunhão e participação que a Igreja foi convidada a implementar devem levá-la a abrir-se à universalidade e a propor a mensagem libertadora do Evangelho e a comunhão com Jesus a todos os povos. Ou seja, «a sinodalidade é missionária», como repetiu o Papa Francisco.

O Documento Final da Segunda Sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, reafirma esta ideia ao dizer que a sinodalidade «não é um fim em si mesma, mas visa a missão que Cristo confiou à Igreja no Espírito» (n.o 32). Ela supõe um modelo circular de Igreja, onde todos têm igual dignidade em virtude do seu baptismo, e em que todos, com a riqueza dos seus dons, têm um papel irrenunciável a desempenhar. Por isso, o documento afirma: «Valorizando todos os carismas e ministérios, a sinodalidade permite ao Povo de Deus anunciar e testemunhar o Evangelho aos homens e mulheres de todos os tempos e lugares» (n.o 32).

O cardeal Luís António Tagle, pró-prefeito do Dicastério para a Evangelização, deu um exemplo de como as dioceses também devem fazer o seu caminho sinodal missionário. No seu encontro com os directores nacionais das Obras Missionárias Pontifícias, no passado mês de Maio, em Roma, deu o testemunho da sua diocese de Imus, na Filipinas, onde depois veio a ser bispo, antes de ser chamado para a Cúria Romana. Contou que, quando se ordenou, a diocese só tinha 27 padres, poucos para as suas necessidades. Apesar disso, o bispo decidiu enviar dois deles em missão. Os padres não concordaram, mas não demoveram o bispo. Deus abençoou aquela decisão e poucos anos depois, o número de padres mais do que duplicou. Daí a sua conclusão: «Quando uma diocese tiver escassez de vocações sacerdotais deve enviar alguns padres em missão.» Uma lição de lógica divina, só entendível na perspectiva da fé. 

Em conclusão, podemos dizer que a Igreja faz a missão e que a missão faz a Igreja – atraindo mais pessoas para a comunhão com Jesus, ajudando quem se doa a aprofundar a sua fé a crescer e moldando a forma de a comunidade celebrar e ser cristã.

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Setembro 2025 - nº 760
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