
De 10 a 21 de Novembro realizou-se em Belém, no Estado amazónico do Pará, no Brasil, a Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP30). A cimeira ocorreu numa altura em que a crise climática é uma realidade urgente e afecta, sobretudo, as populações mais vulneráveis do Sul global, destruindo vidas e ecossistemas.
Há dez anos, na Conferência do Clima das Nações Unidas, ratificou-se» o Acordo de Paris, que pretendia reduzir a quantidade de dióxido de carbono que lançamos para a atmosfera e causa as alterações climáticas. Estima-se que em 2025 emitiremos 10% mais gases de estufa do que há uma década. Na mensagem que Leão XIV enviou aos participantes na COP30, lida pelo cardeal secretário de Estado Pietro Parolin, o papa lembra que o caminho para atingir os objectivos do acordo «continua a ser longo e complexo», mas instou a «acelerar com coragem a sua aplicação».
No texto, o papa frisa que há um vínculo claro entre a construção da paz e o cuidado da Criação. E salienta que, «nestes tempos difíceis», a atenção e a preocupação da comunidade internacional parecem estar «principalmente focadas nos conflitos entre nações», mas há também uma «consciência cada vez maior» que a paz também é ameaçada «pela falta de respeito pela Criação, pelo saqueio dos recursos naturais e pelo declínio progressivo da qualidade de vida devido às alterações climáticas». Neste contexto, o papa apela a uma cooperação internacional e um multilateralismo coeso e voltado para o futuro, «que coloque no centro a sacralidade da vida a dignidade dada por Deus a cada ser humano e o bem comum».
Leão XIV cita João Paulo II, que já nos anos 1990 assinalava que a crise ecológica «é uma questão moral» que exige uma mudança do coração e uma “transição relacional” – ver página 11e revela a necessidade de «uma nova solidariedade, especialmente entre os países em desenvolvimento e os altamente industrializados». Nesse sentido, pede uma educação e conversão ecológica integral e lembra que cuidar da Criação é uma forma concreta de exercer a humanidade e a solidariedade. Ouvindo o grito da Terra e dos pobres, o papa aposta num novo modelo económico global: «Que esta conversão inspire o desenvolvimento de uma nova arquitectura financeira internacional centrada no ser humano, que permita a todos os países, especialmente aos mais pobres e vulneráveis, atingir o seu pleno potencial.» Solicita, ainda, que não se esqueça a ligação entre «a dívida ecológica e a dívida externa». E enfatiza que «é vital transformar palavras e reflexões em escolhas e acções baseadas na responsabilidade, justiça e equidade para alcançar uma paz duradoura, cuidando da Criação e do próximo».
O acordo final da COP30, intitulado Decisão Mutirão (referência a um termo indígena tupi que designa uma comunidade que se une para trabalhar numa tarefa comum), ainda que possa desiludir pela falta de decisões políticas – ver página 9 –, aponta para a necessidade de uma rota de acção global na luta contra as alterações climáticas que permita cuidar da Casa Comum e sonhar com um presente e um futuro mais sustentável e pacífico para todos.
