Opinião
05 fevereiro 2023

Quem contará a história de Jesus?

Tempo de leitura: 4 min
Contar a história de Jesus dirige-se a todos os cristãos e aguarda de todos nós uma resposta criativa, à altura dos tempos que nos toca viver.
P. Manuel Augusto Lopes Ferreira
Missionário comboniano
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(© 123RF)

 

Escolho como palavra para a missão deste mês o verbo «contar» (no sentido de narrar, transmitir por meio da palavra), inserido na frase do título com que se abre este texto.

Tomo a frase de uma intervenção do senhor cardeal António Tagle, prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos (chamada no passado de Propaganda Fide e que na recente reforma da Cúria Romana faz parte do agora chamado Dicastério para a Evangelização).

Mas o Papa Francisco também usa o verbo «contar», anunciar em relação à missão cristã. Como quando diz (na A Alegria do Evangelho (AE), números 8 e 9) que «se alguém descobriu o amor (de Cristo) que lhe restitui o sentido da vida, como pode conter o desejo de o (contar) comunicar aos outros?» Ou quando recorda a expressão de São Paulo «Ai de mim se não anuncio o Evangelho!» (1 Cor 9, 16). Ou quando refere que «o anúncio renovado é fonte de fecundidade evangelizadora», pois Cristo é uma boa notícia eterna, «o mesmo hoje e sempre» (Heb 13, 18). Ou quando nos recorda que a narrativa cristã não envelhece e que «da vitalidade original do Evangelho nascem novos caminhos, formas de expressão, sinais eloquentes, palavras cheias de fecundo significado» (AE, 11).

Ao contar a história de Jesus, o Papa Francisco dedica todo o capítulo terceiro da exortação apostólica A Alegria do Evangelho (números 111-175) reforçando a convicção de que a missão cristã vive da palavra das testemunhas, de todos os cristãos e não só da homilia do sacerdote na celebração eucarística; das testemunhas espera-se que contem o que viram e ouviram, como já afirma São Paulo a respeito do querigma, do anúncio, cristão: «transmiti-vos o que eu mesmo recebi» (1 Cor 11, 23).

Também no âmbito cultural, social e familiar, o Papa Francisco insiste na importância do contar, da transmissão oral das narrativas entre as gerações, particularmente quando se dirige aos jovens e quando fala da necessidade de conservar as próprias raízes; ou quando fala dos idosos e da necessidade de os jovens ouvirem os idosos e as narrativas que eles verbalizam, para saberem de onde vêm e para onde vão, para serem ajudados no desafio de encontrarem sentido para as próprias vidas.

Voltando ao nosso título e à expressão do cardeal, na abertura de um simpósio universitário que debate a história de uma instituição, em que os holofotes estão voltados para tantas histórias (de papas e cardeais, de instituições e documentos...), a interrogação soa a provocação: «No mundo contemporâneo, da inteligência artificial, do extremismo, da polarização, da indiferença religiosa, da emigração forçada, dos desastres climáticos... como será contada a história de Jesus? E quem contará esta história?»

Sim, num mundo com tantas histórias a contenderem a primeira página dos jornais, a audiência das televisões, as emoções que correm nas redes sociais, a nossa própria atenção e interesse, como será contada a história de Jesus e quem a contará, se nós cristãos a não contarmos? Os missionários – que abraçam o mandato de Jesus «ide pelo mundo inteiro» – respondem à nossa interrogação; mas o desafio de contar a história de Jesus dirige-se a todos os cristãos e aguarda de todos nós uma resposta criativa, à altura dos tempos que nos toca viver.  

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