Seul, finais de Abril. Às sete da manhã, o ar está fresco. Nos grandes painéis digitais, a publicidade corre sem parar, mas as ruas de Myeong-dong (sendo «dong» traduzível por «bairro») estão ainda desertas, com lojas e restaurantes fechados. Só ontem à noite, este lugar era um vaivém constante de gente, com uma sucessão de bancas a vender todo o tipo de comida feita na hora (o aclamado street food coreano). E depois luzes — luzes por todo o lado, de todas as cores. Myeong-dong é zona de lojas de cosméticos (uma das grandes especialidades da Coreia do Sul), roupa, acessórios, brinquedos, fotografia e, claro, espaços de lazer e restaurantes. Em suma, um bairro de compras e entretenimento. Passaram-se apenas umas horas, mas agora parece que se foi transportado para outro lugar. Tudo respira ordem e limpeza.
No jornal The Korea Times, para explicar o seu espanto perante o asseio do país, um professor universitário indiano recorreu a uma citação: «A limpeza anda próxima da santidade.» Como acontece na maioria dos casos, a autoria da frase é incerta, mas a ideia expressa não anda longe da realidade.
A Coreia é um país onde os espaços públicos, ruas, transportes, jardins, estão tão imaculados e arrumados que deixam qualquer um boquiaberto. E nem se fale das casas de banho públicas (sempre gratuitas), que, aos olhos de um estrangeiro, fazem lembrar a higiene de uma clínica ou o filme de Wim Wenders Perfect Days (passado em casas de banho públicas de Tóquio). É difícil não associar esta realidade à influência do Confucionismo, a filosofia que permeia todos os aspectos da vida dos Coreanos, independentemente da sua eventual afiliação religiosa.