Sala de convívio
25 novembro 2019

A estação errada

Tempo de leitura: 1 min
Enganaram-se: na migração primaveril, há escassez de alimentos, e estas aves até a plantas venenosas lançam mão — pata, no caso. Ou bico.
Hélder Guégués
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«Todo o povo naquele dia e naquela noite e em todo o dia seguinte se pôs a apanhar codornizes; aquele que menos apanhou, ainda apanhou dez hómeres. Estenderam-nas em volta do acampamento. A carne estava-lhes ainda entre os dentes, antes de ser mastigada, quando a ira do Senhor se inflamou contra o povo e o Senhor feriu o povo com um grande castigo» (Nm 11, 32-33). E porquê? A resposta está também na Bíblia: «Não comereis nenhum animal morto» (Dt 14, 21). Nos tempos de escassez que se seguiram à saída do Egito (c. 1400-1300 a. C.), os israelitas apanharam grande quantidade de codornizes por ocasião da migração primaveril destas aves.

Enganaram-se: na migração primaveril, há escassez de alimentos, e estas aves até a plantas venenosas lançam mão — pata, no caso. Ou bico. Entre essas plantas venenosas estava a cicuta (Conium maculatum L.), que contém conicina, ou cicutina, um veneno de ação rápida: daí que ainda a carne estava nos dentes dos israelitas e já começava a produzir o seu efeito letal. Na migração outonal, pelo contrário, há abundantes campos de trigo. Mas pior aconteceu com Sócrates, 399 anos antes de Cristo, que, por ter instigado a procurar «outros deuses além dos da cidade», foi condenado a beber um chá de cicuta.

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