Como vocês devem saber, esta revista é feita com alguma antecedência. Estou a escrever este texto no fim de março, vocês hão de lê-lo em maio. Não sei como estaremos em maio, nesta terrível pandemia do coronavírus que nos afetou.
Mas infelizmente penso que não estaremos muito diferentes do que estamos hoje: fechados em casa, a lavar as mãos de 20 em 20 minutos, a beber muitos líquidos quentes, etc.
Não é um tempo fácil, mas também não devemos cair em depressão. Mesmo dentro de casa há tanta coisa para fazer.
Antes de mais, leiam bem a Audácia. Do princípio ao fim. E aproveitem para ler os livros que têm em casa e ainda não leram. E se já leram todos, peguem na Bíblia – que é o livro mais extraordinário que existe. O meu marido dizia sempre: «Abre-a onde calhar e encontras sempre o que precisas.» Vão ver como é verdade.
Vão ao Facebook e vejam a quantidade de iniciativas que aí se transmitem, desde concertos de música, teatro, já para não falar na Eucaristia Dominical, que também é transmitida na RTP e na TVI – e ainda noutros lugares de culto. Eu, por exemplo, sou fiel à missa transmitida da Igreja do Rato, às 11h30, e que podemos assistir no sítio da Igreja do Rato. E se gostarem mais de ouvir conversas sobre os mais variados temas, sigam, no Facebook, a página «Aos vossos Lugares».
E claro, um programa ou outro na televisão.
E contactem com a vossa junta de freguesia, porque há coisas que podem fazer – incluindo ligar para os mais velhos da freguesia e perguntar se estão bem. Não custa nada e eles ficam tão contentes.
Porque de repente as pessoas descobrem coisas novas. Por exemplo: que podem telefonar aos amigos, conversar com eles. Agora não há a desculpa da falta de tempo, da SMS apressada... Porque quando não podemos ver os amigos é que percebemos a falta que eles nos fazem.
No dia dos meus anos, já de quarentena (em que estive de telemóvel à orelha quase o dia todo, até tive de o recarregar a meio da tarde…) recebi um telefonema de um número não identificado. Era um senhor, chamado Corsa Fortes, de quem eu nunca tinha ouvido falar. Então disse-me que vinha da parte da minha prima Luísa, de Castelo Branco. E o que é que o senhor faz? É contador de histórias. E aceita “encomendas”. Pessoas que lhe telefonam e lhe dão o telefone de uma amiga ou amigo para ele ligar e contar uma história.
Se vocês o ouvissem… Como ele conta bem, e como a história era linda… Depois, no fim, disse-me que também era poeta, mas que o pai, que já tinha morrido, é que tinha sido um grande poeta.
Pergunto-lhe o nome do pai.
– Corsino Fortes – diz-me.
Eu ia caindo para o lado.
– Corsino Fortes? De Cabo Verde?
E era.
Acontece que o Corsino Fortes tinha sido meu colega na universidade... Um colega de quem eu gostava muito, e que aqui há uns anos tinha reencontrado na Póvoa de Varzim, num encontro literário que lá há todos os anos chamado Correntes de Escrita. Parece que estou a vê-lo, muito alto, muito bonito, a sorrir para mim: «Olha a minha coleguinha...» Ele era mais velho que eu, tinha tido uma infância e juventude muito difíceis e começara a estudar tarde.
E pronto, o mundo é mesmo muito pequeno.
E mesmo nas horas difíceis acontecem sempre coisas boas.
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Nestes tempos da covid-19, pedem-nos que fiquemos em casa para nos protegermos, cuidar de nós e dos nossos e ser solidários com a comunidade. Os Missionários Combonianos e as revistas Além-Mar e Audácia querem contribuir para que passe este período da melhor forma possível e, por isso, enquanto durar a quarentena, decidimos tornar de leitura livre todos os conteúdos das nossas publicações missionárias.