Sala de convívio
19 agosto 2020

Aquela coisa

Tempo de leitura: 2 min
Tudo tem nome e devemos procurar conhecê-lo.
Hélder Guégués
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Uma das maiores riquezas – a ponto de não termos de invejar, até porque é um sentimento demasiado humano, mas feio, nenhuma outra – da língua portuguesa é a extensão do seu léxico, a par da plasticidade da própria língua. É justamente por isso que costumo lembrar que tudo tem nome, pode é acontecer que nós o desconheçamos, o que é natural, dada a vastidão da própria realidade.

Nos últimos tempos, tenho-me dedicado a olhar com outros olhos para as gruas das obras de construção civil aqui à minha volta. Há várias e de vários tipos e – lá está – não é um amontoado à toa de ferros que ali está. Não, cada peça tem nome. Olhemos para a grua da imagem em baixo. A estrutura horizontal do lado direito, mais longa, designa-se por lança, em cuja extremidade se situa o gancho de elevação das cargas. O lado oposto da lança é a contralança, elemento mais curto e onde se situam os contrapesos, habitualmente blocos de betão, que servem para contrabalançar o peso da carga a elevar. Já a estrutura triangular que separa a lança da contralança tem o nome de porta-lança. Há certos tipos de gruas que não têm porta-lança – são as gruas flat top. Os cabos tensos por cima são os tirantes, que é também o nome que têm os cabos das pontes atirantadas, ou seja, daquelas em que da sua superestrutura fazem parte tirantes, além de torres, pilares e tabuleiro. Mas de pontes falaremos noutra altura. Agora, o que importa reter é que tudo tem nome e devemos procurar conhecê-lo, porque conhecer o nome de algo já é uma forma de domínio sobre a realidade, é conhecimento.

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Abril 2024 - nº 627
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