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30 maio 2023

Sinais de esperança

Tempo de leitura: 4 min
A Etiópia, o maior país do Corno de África, que continua a viver num clima de tensão social e política, os católicos são um pequeno rebanho de menos de 2% da população. O Vicariato de Hawassa apoia as pessoas deslocadas de todas as formas possíveis.
P. Juan González Núñez
Missionário comboniano
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Campo de deslocados na região de Borana, no Sul do Vicariato de Hawassa, que tem como administrador apostólico o P.e Juan González Núñez, missionário comboniano espanhol; o vicariato está a colaborar com outras ONG no apoio às pessoas deslocadas

 

Os Boranas, um grupo étnico pastoril, ocupam a parte mais ao sul da Etiópia, a região de Oromia, na fronteira com o Quénia. A sua terra é uma savana perpetuamente árida, mas, se as chuvas são regulares, é capaz de suportar dois a três milhões de bovinos, além de grandes rebanhos de cabras brancas.

Infelizmente, a tendência normal de chuvas no distrito mudou drasticamente. Há cinco anos que não chove, e a capacidade da região de lidar com essa catástrofe esgotou-se completamente. Um após o outro, todos os pontos de água secaram e quase todo o gado morreu. Fala-se de pelo menos dois milhões de cabeças de gado mortos pela fome e sede.

Devemos regressar a 1984 para encontrar uma tragédia destas dimensões. Eu também a testemunhei em primeira mão. Naquele ano de terrível memória, as vítimas da seca entre os Boranas excederam um milhão.

Hoje, o Governo promete que não deixará um único indivíduo morrer devido à seca. Talvez ele pudesse fazê-lo se juntasse todos os Boranas nos campos de deslocados internos. No entanto, não será possível saber com certeza quantas vítimas terão falecido nas suas aldeias devido à desnutrição e fome.

Gradualmente, a maioria das pessoas já se mudou para os campos de deslocados internos criados pelo Governo.

 

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O arcebispo de Adis-Abeba, cardeal Berhaneyesus Souraphiel, e os representantes do Vicariato de Hawassa, P.e Juan González Núñez, administrador apostólico, P.e Nicola Di Iorio, vice-director executivo, e P.e Tsegaye Getahun, director do Se[1]cretariado Católico de Hawassa, visitaram a região de Borana, localizada no Sul do Vicariato, habitado em grande parte pelo grupo étnico de mesmo nome, uma das áreas mais afectadas pela seca, para levar ajuda e, acima de tudo, esperança para as muitas vítimas.

 

Próximos dos deslocados

A delegação da Igreja Católica, liderada pelo cardeal de Adis-Abeba, visitou o campo de Dubluk, que, com oitenta mil habitantes, é um dos maiores da região de Borana. As pessoas deslocadas vivem principalmente em tendas, algumas em cabanas, outras em barracos de madeira cobertos com folhas de plástico. As pessoas parecem limpas, vestidas decentemente e bem alimentadas: roupas e alimentos são fornecidos pelo Governo e instituições de caridade. Mas há um sentimento de desespero entre aqueles que antes eram ricos e agora perderam tudo.

A seca já dura há cinco anos: a mais longa de que as pessoas se lembram. Desde o início, o Vicariato de Hawassa está presente, ajudando as pessoas deslocadas de todas as formas possíveis. Entre os Boranas, existem três missões católicas dos Missionários Espiritanos, que se destacaram pelo trabalho social, seja em escolas, residências estudantis ou escavações de poços de água.

 

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Mulher borana num campo de deslocados

 

O Vicariato continua a ajudar a população, mas não se vê um fim à vista para esta grave crise humana. Até hoje conseguimos colaborar na assistência a cerca de um milhão e meio de boranas, distribuindo grandes quantidades de ajudas recebidas de organizações como a Caritas América, Caritas Áustria e outras.

Um dia depois da nossa visita aos deslocados, começou a chover. É possível que as pessoas comecem a dizer que foram os católicos que trouxeram a chuva. Seria um equívoco curioso. Sabemos bem que só Deus é o Senhor de tudo o que a sua providência coloca à nossa disposição.  

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