Opinião
11 fevereiro 2024

Cuidar do doente, cuidando das relações

Tempo de leitura: 4 min
Cuidar do doente significa, antes de mais nada, cuidar das suas relações, de todas as suas relações.
P. José Manuel Pereira de Almeida
Coordenador Nacional da Pastoral da Saúde
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(©123RF)

 

Cuidar do doente, cuidando das relações é o subtítulo da mensagem do Papa Francisco para a celebração do XXXII Dia Mundial do Doente (11 de Fevereiro de 2024) que tem como título Não é conveniente que o homem esteja só, citação do versículo 18 do 2.º capítulo do Livro dos Génesis.

De facto, «cuidar do doente significa, antes de mais nada, cuidar das suas relações, de todas as suas relações: com Deus, com os outros – familiares, amigos, profissionais de saúde –, com a criação, consigo mesmo», afirma o papa na segunda parte do texto da mensagem. Criados por Deus para a comunhão com Ele, somos chamados a viver esta relação filial no concreto das relações fraternas com os homens e mulheres que connosco caminham sobre a Terra. E se isso é verdade em todas as circunstâncias, mais importante se torna quando alguém à nossa volta precisa de um apoio especial. Pergunta o papa: «É possível?»; e responde, logo de seguida: «Sim, é possível; e todos somos chamados a empenhar-nos para que tal aconteça. Olhemos para o ícone do Bom Samaritano (cf. Lc 10,25-37), contemplemos a sua capacidade de parar e aproximar-se, a ternura com que trata as feridas do irmão que sofre».

É recorrente (e facilmente percebemos porquê) a referência à parábola do Bom Samaritano (recordemos, por exemplo, todo o capítulo II da encíclica Fratelli tutti). Cuidar do doente de forma que as nossas relações com ele sejam de proximidade, tornando-nos verdadeiramente seus irmãos. Afinal, discípulos de Jesus que se aproximou de nós, aprendemos com Ele a sermos criadores de proximidade: «Na sua vida mortal, Ele passou fazendo o bem e socorrendo todos os que eram prisioneiros do mal. Ainda hoje, como bom samaritano, vem ao encontro de todos os homens, atribulados no corpo ou no espírito, e derrama sobre as suas feridas o óleo da consolação e o vinho da esperança (do Prefácio Comum VIII).

Como nas mensagens dos anos anteriores, o papa recorda a difícil situação que vivemos com a pandemia, «todos aqueles que permaneceram terrivelmente sós durante a pandemia de covid-19: pacientes que não podiam receber visitas, mas também enfermeiros, médicos e pessoal auxiliar, todos sobrecarregados de trabalho e confinados em repartições isoladas. E não esqueçamos quantos tiveram de enfrentar sozinhos a hora da morte, assistidos pelos profissionais de saúde, mas longe das suas famílias». Mas, nesta mensagem, acrescenta a dramática situação da guerra; e afirma: «Associo-me, pesaroso, à condição de sofrimento e solidão de quantos, por causa da guerra e das suas trágicas consequências, se encontram sem apoio nem assistência: a guerra é a mais terrível das doenças sociais e as pessoas mais frágeis pagam-lhe o preço mais alto».

Com o Papa Francisco, «confiemo-nos a Maria Santíssima, Saúde dos Enfermos, pedindo-Lhe que interceda por nós e nos ajude a ser artífices de proximidade e de relações fraternas». Que este Dia Mundial do Doente possa chamar a nossa atenção para que nos renovemos no cuidado atento e próximo para com aqueles que vivem uma situação de doença, qualquer que ela seja, e, de alguma maneira, esperam por nós. Que ninguém fique esquecido! 

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