Opinião
11 fevereiro 2021

Para uma cultura do cuidado

Tempo de leitura: 4 min
Que as sementes do cuidado que lançamos à terra com os nossos gestos quotidianos possam ser cultivadas por todos, de modo que possa crescer e florir uma cultura do cuidado.
P. José Manuel Pereira de Almeida
Coordenador Nacional da Pastoral da Saúde
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Com o título «Um só é o vosso Mestre e vós sois todos irmãos» (Mt 23,8), o Papa Francisco dirige-se a cada um de nós, na Mensagem para o Dia Mundial do Doente (11 de Fevereiro, memória de Nossa Senhora de Lurdes) deste ano.

Temos vivido um tempo muito especial. Como que a condição de estarmos doentes se alargou desmesuradamente. Todos sabemos que podemos adoecer. Mas esta possibilidade deixou de ser longínqua para a maioria de nós. Podemos ficar doentes já… amanhã.

A pandemia não conhece fronteiras e tornou mais evidente a nossa fragilidade. De facto, a imprevisibilidade dos tempos que nos são dados viver pode fazer com que cresça o medo: «Quando estamos doentes, a incerteza, o temor e, por vezes, o pavor impregnam a mente e o coração» (n.º 2), diz-nos Francisco. Mas o medo não é bom conselheiro. Por isso, o papa acrescenta imediatamente uma reflexão sobre o que nos é lícito esperar: «A doença impõe uma pergunta sobre o sentido que, na fé, se dirige a Deus. Uma pergunta que procura um significado novo e uma nova direcção para a existência e que, por vezes, pode não encontrar imediatamente uma resposta.»

Diante da covid-19, muitos se têm ocupado na vertente científica ou técnica. Senão, como teríamos tido, num prazo tão curto, as vacinas de que já dispomos?!

Mas o que devemos fazer não se fica só por estas áreas: muitos mais se têm dedicado, no âmbito dos cuidados concretos de saúde (médicos, enfermeiros, voluntários), ao serviço efectivo dos mais frágeis.

Neste Dia Mundial do Doente vale a pena recordar que somos todos irmãos e que queremos continuar a aprender com o Mestre o que significa proximidade e cuidado com quem está doente. «A proximidade é um bálsamo precioso, que dá apoio e consolação a quem sofre na doença. Enquanto cristãos, vivemos uma tal proximidade como expressão do amor de Jesus Cristo, o bom Samaritano, que com compaixão Se fez próximo de todo o ser humano, ferido pelo pecado» (n.º 3).

«Uma sociedade é tanto mais humana quanto melhor souber cuidar dos seus membros frágeis e atribulados e o fizer com uma eficiência animada por amor fraterno. Tendamos para esta meta, procurando que ninguém fique sozinho, nem se sinta excluído e abandonado» (n.º 5). Gostava de recordar a mensagem para o Dia Mundial da Paz (1 de Janeiro de 2021) em que Francisco nos tinha convidado a desenvolver uma cultura do cuidado. Que as sementes do cuidado que lançamos à terra com os nossos gestos quotidianos possam ser cultivadas por todos, de modo que possa crescer e florir uma cultura do cuidado em todos os sectores da nossa vida. Mas em especial no cuidado para com os doentes.

Por isso, o papa assinala que este é um «momento propício para prestar uma atenção especial às pessoas doentes e a quantos as assistem [...]. Penso de modo particular nas pessoas que sofrem em todo o mundo os efeitos da pandemia do coronavírus. A todos, especialmente aos mais pobres e marginalizados, expresso a minha proximidade espiritual, assegurando a solicitude e o afecto da Igreja» (n.º 1). 

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