Opinião
24 agosto 2022

Fraternidade sem fronteiras

Tempo de leitura: 3 min
O verdadeiro encontro e o diálogo genuíno entre culturas e religiões têm como esteira comum o encontro e o diálogo entre pessoas concretas.
Adelino Ascenso
Presidente dos Institutos Missionários Ad Gentes (IMAG)
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(© Lusa)

 

As grandes proporções do fenómeno migratório e a multiculturalidade daí resultante conduziram o mundo do terceiro milénio a novos desafios no que diz respeito à urgência da construção de pontes e do derrube de fronteiras que impeçam a fraternidade. A questão essencial com que nos deparamos é o como: aprender como viver juntos, como respeitar o outro, como dialogar com o diferente e como escutar o seu coração. É-nos exigido um esforço de atenção em três blocos prioritários de diálogo, que se apresentam com ramificações e matizes enriquecedores: com as religiões, com os indiferentes e com a cultura.

No encontro com a imensa variedade de religiões, deve adoptar-se sempre «a cultura do diálogo como caminho; a colaboração como conduta; o conhecimento mútuo como método e critério» (Papa Francisco, carta encíclica Fratelli Tutti, 285). Tal cultura do diálogo deve ser feita na «sinceridade de coração», na «coragem da diferença» e na «preservação da identidade» sem ambições – mais ou menos veladas – de converter o outro e sem se cair na cilada do sincretismo imaturo.

Relativamente ao diálogo com os indiferentes, requer-se uma abordagem antropológica, lavrando o solo da dimensão pré-religiosa da nossa humanidade, aquele terreno prévio a qualquer nomenclatura religiosa, onde o ser humano se depara com elementos primordiais e comuns, tais como sofrimento, sentido da existência, traição, sede de amor. Finalmente, a valorização da cultura e das suas diversas manifestações apresenta-se como um manancial de interioridade e um apelo à busca de novas linguagens, procurando os sinais de transcendência aí ocultos.

São estas as linhas de força que nos impulsionaram à realização de um Congresso Missionário com o tema genérico de Fraternidade sem fronteiras. Em tal evento de dois dias, que se realizará nos dias 14 e 15 de Outubro, no auditório Cardeal Medeiros, na Universidade Católica Portuguesa de Lisboa, gostaríamos de tomar o Documento sobre a fraternidade humana para a paz mundial e a convivência em comum [declaração católico-islâmica assinada no ano de 2019 em Abu Dhabi pelo Papa Francisco e o grão-imã de Al-Azhar, Ahmad Al-Tayyeb, na foto], como ponto de partida, peregrinando pela fraternidade na cultura do diálogo, na política, na economia, no modelo social, na missão, no diálogo intercultural e inter-religioso, e desaguando no papel da fraternidade na reconstrução da esperança, perspectivando a fraternidade sem fronteiras, numa série de seis conferências individuais e dois painéis inter-religiosos.

O verdadeiro encontro e o diálogo genuíno entre culturas e religiões têm como esteira comum o encontro e o diálogo entre pessoas concretas. Alimentados por esta convicção, desejamos alentar-nos mutuamente a aprofundarmos o nosso conhecimento mútuo e a nossa relação, em vista a uma colaboração fraterna entre diferentes, acreditando que «é juntos que se constroem os sonhos» (Fratelli Tutti, 8).  

(* Publicação conjunta da Missão Press) 

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