(As Crónicas Verdes de um Adolescente)
Ainda não falei sobre os animais que vivem no andar de cima do mesmo prédio que os grandes mamíferos tingidos a preto e branco. Os vizinhos de baixo, ou seja, as vacas, queixam-se do pelo e da palha que os de cima – os coelhos – deixam cair constantemente.
Mal o Sol espreite pelo horizonte, esses vizinhos chatos de cima dão uns guinchinhos agudos a pedir comida e acordam toda a vacaria – e até o galinheiro, deixando os galos em risco de perder o emprego, já que esse era o único trabalho que eles têm.
Apesar das reclamações da vizinhança, eu não os consigo expulsar. Basta olhar para aquela cara peludinha, os olhos doces e as orelhas grandes, para fazer qualquer um ter vontade de os abraçar. É uma estratégia bastante inteligente a dos coelhos!
Tivemos vários coelhos, mas só um se destacou. Foi um dos dez coelhinhos de uma ninhada, o Pedrito Coelho.
Não é por acaso que lhe foi dado o nome de uma série infantil sobre um coelho que faz asneiras numa quinta local. Acho que é o nome adequado para ele.
Era um coelho pequeno, preto e branco, tal como os seus vizinhos de baixo; com grandes bigodes – como os vizinhos do lado, os gatos; um rabinho branco, que parecia um pompom; enormes e originais orelhas, que o distinguiam dos seus pares.
E era assim vestido que o rebelde Pedrito Coelho fugia da toca da mãe e ia descobrir o resto do mundo.
Primeiro dava uns pulinhos de felicidade por ter saído da toca sem ter sido apanhado pela mãe. Logo a seguir, pulava em direção ao galinheiro, que também ficava no segundo andar, e gabava-se aos galos, enquanto estes o insultavam com cocorocós e outras expressões ofensivas na língua dos galináceos.
Depois, descia ao rés-do-chão, onde, ao passar pelas vacas, esquivava-se às lambidelas. Nem sempre tinha sucesso. De vez em quando, o seu pelo, que era fofo, passava a pegajoso, devido ao desejo que as vacas têm de lamber o que não conhecem.
No final de passar pelo corredor de massagens, o Pedrito tinha o mundo à sua frente para explorar, e andava à vontade até ver algum ser humano e pular a esconder-se num buraco, pois temia que a mãe tivesse avisado os temíveis humanos e estes andassem atrás dele para o levarem de volta para a saia da mãe coelho.
O recorde do Pedrito fora da toca foi de dez dias. Terminou quando o apanhei numa esquina e o levei de volta para a mãe coelho.
Esta, cansada com a rebeldia do adolescente, pediu melhoramentos na toca, e o senhorio – o meu pai – acedeu. Feitas as obras, o Pedrito nunca mais pôde escapulir-se!
Eu é que não queria receber um castigo da mãe como o do Pedrito Coelho!…
É melhor ter cuidado!…