Sala de convívio
30 abril 2022

O Pedrito Coelho

Tempo de leitura: 3 min
Tivemos vários coelhos, mas só um se destacou. Foi um dos dez coelhinhos de uma ninhada, o Pedrito Coelho.
Pedro Neves
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(As Crónicas Verdes de um Adolescente)

 

Ainda não falei sobre os animais que vivem no andar de cima do mesmo prédio que os grandes mamíferos tingidos a preto e branco. Os vizinhos de baixo, ou seja, as vacas, queixam-se do pelo e da palha que os de cima – os coelhos – deixam cair constantemente.

Mal o Sol espreite pelo horizonte, esses vizinhos chatos de cima dão uns guinchinhos agudos a pedir comida e acordam toda a vacaria – e até o galinheiro, deixando os galos em risco de perder o emprego, já que esse era o único trabalho que eles têm.

Apesar das reclamações da vizinhança, eu não os consigo expulsar. Basta olhar para aquela cara peludinha, os olhos doces e as orelhas grandes, para fazer qualquer um ter vontade de os abraçar. É uma estratégia bastante inteligente a dos coelhos!

Tivemos vários coelhos, mas só um se destacou. Foi um dos dez coelhinhos de uma ninhada, o Pedrito Coelho.

Não é por acaso que lhe foi dado o nome de uma série infantil sobre um coelho que faz asneiras numa quinta local. Acho que é o nome adequado para ele.

Era um coelho pequeno, preto e branco, tal como os seus vizinhos de baixo; com grandes bigodes – como os vizinhos do lado, os gatos; um rabinho branco, que parecia um pompom; enormes e originais orelhas, que o distinguiam dos seus pares.

E era assim vestido que o rebelde Pedrito Coelho fugia da toca da mãe e ia descobrir o resto do mundo.

Primeiro dava uns pulinhos de felicidade por ter saído da toca sem ter sido apanhado pela mãe. Logo a seguir, pulava em direção ao galinheiro, que também ficava no segundo andar, e gabava-se aos galos, enquanto estes o insultavam com cocorocós e outras expressões ofensivas na língua dos galináceos.

Depois, descia ao rés-do-chão, onde, ao passar pelas vacas, esquivava-se às lambidelas. Nem sempre tinha sucesso. De vez em quando, o seu pelo, que era fofo, passava a pegajoso, devido ao desejo que as vacas têm de lamber o que não conhecem.

No final de passar pelo corredor de massagens, o Pedrito tinha o mundo à sua frente para explorar, e andava à vontade até ver algum ser humano e pular a esconder-se num buraco, pois temia que a mãe tivesse avisado os temíveis humanos e estes andassem atrás dele para o levarem de volta para a saia da mãe coelho.

O recorde do Pedrito fora da toca foi de dez dias. Terminou quando o apanhei numa esquina e o levei de volta para a mãe coelho.

Esta, cansada com a rebeldia do adolescente, pediu melhoramentos na toca, e o senhorio – o meu pai – acedeu. Feitas as obras, o Pedrito nunca mais pôde escapulir-se!

Eu é que não queria receber um castigo da mãe como o do Pedrito Coelho!…

É melhor ter cuidado!…

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Abril 2024 - nº 627
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