Sala de convívio
30 maio 2022

Crónica das Olimpíadas Agrárias

Tempo de leitura: 3 min
Segundo dia das Olimpíadas dedicado aos ruminantes: bovinos, caprinos, ovinos, cervídeos e camelídeos.
Pedro Neves
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Dia 2: Olimpíadas dos ruminantes

Os animais saiam dos pastos e juntavam-se na arena. Era um novo dia de olimpíadas e ia ser dedicado aos ruminantes: bovinos, caprinos, ovinos, cervídeos e camelídeos. Todos vestiram os uniformes dos respetivos países e prepararam-se para a primeira prova do dia: a competição da comida. Quem acabasse mais rápido os quatrocentos quilos de erva era o vencedor. Os glutões alinharam-se à frente das suas manjedouras já com o babete posto para começar o banquete. Quando o apito soou, dezenas de bocas esfomeadas agarraram a erva e começaram a devorar sem perder o apetite. Quatro minutos depois, já havia vencedor. Foi o grande bisonte-americano, pentacampeão dos quatrocentos quilos de erva. A claque estado-unidense nem mostrou grande entusiasmo com a vitória – há vinte anos que o bisonte americano é o campeão, levando para casa o casco de ouro.

Em seguida, o público e os participantes saíram da arena e dirigiram-se para a montanha, pois era lá que ia decorrer a competição seguinte. Nesta competição, só participou uma espécie ruminante: as cabras, cuja capacidade de escalada em locais íngremes punha em questão a existência da gravidade. A área a escalar era superior a um quilómetro de pedras. Para evitar ou acudir a acidentes, uma equipa de salvamentos estava pronta para entrar em ação.

O público estava no topo da montanha agasalhado com camisolas de lã feitas pelas ovelhas, à espera que algum dos participantes chegasse ao topo. Duas horas entediantes depois, finalmente deu para ver um chifre a aparecer, era do bode Felipe II, uma cabra montanhesa de uma importante família real caprina pertencente à união entre Portugal e Espanha. Foi euforia total por parte do público ibérico: era o primeiro casco de ouro que ganhavam naquela modalidade.

O sol já estava a chegar à porta de saída para dar início à noite. Apenas havia tempo para mais uma competição: a do coice mais forte. Os concorrentes alinharam-se em frente de uma máquina medidora de força. Quando a prova começou, cada coice na máquina fazia um estoiro que assustava o público. A meio da prova, foi preciso substituir a máquina, pois o touro francês da raça maine deu um coice de tal ordem que a avariou. Porém, bateu o recorde do mundo e arrebatou o terceiro casco de ouro para a França desde o início das olimpíadas agrárias.

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Abril 2024 - nº 627
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