Sala de convívio
14 abril 2020

Desporto é fair-play

Tempo de leitura: 4 min
Numa altura em que manifestações de racismo em recintos desportivos portugueses foram notícia, é bom recordar o exemplo de humanidade e solidariedade que Braima Dabó, por acaso de pele negra, deu ao Mundo.
Luís Óscar
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O vencedor de uma corrida de apuramento para a final dos 5000 metros nos Mundiais de Atletismo de Doha (Catar), em setembro de 2019, já tinha cortado a meta havia cinco minutos quando as bancadas do Estádio Khalifa se agitaram numa enorme ovação. Na pista, o atleta guineense Braima Dabó (na foto, à direita) voltara atrás para amparar o cambaleante Jonathan Busby (de Aruba). Braima carregou o adversário durante os últimos 250 metros, debaixo de forte aplauso.

Os regulamentos impuseram a desclassificação de Jonathan, mas aquele gesto acabou por valer a Braima, em novembro do ano passado, o Prémio Fair-Play da Federação Internacional de Atletismo (IAAF), além de outras distinções, como a medalha de mérito entregue pelo Presidente da República Portuguesa. Em Aruba, pequena ilha das Caraíbas Holandesas, ao largo da Venezuela, com 100 mil habitantes, Braima foi declarado embaixador da Boa Vontade.

Braima Dabó nasceu em Catió, no sul da Guiné-Bissau, onde viveu até se mudar, em 2011, para o norte de Portugal, com 18 anos, para estudar, apoiado pela organização não governamental Na Rota dos Povos, que ajuda jovens dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP). O gosto pelo atletismo surgiu três anos depois e, apesar do seu empenho, a presença nos Mundiais só foi possível graças ao convite que a IAAF fez à Guiné-Bissau e a outros países sem atletas com mínimos para poderem competir. Braima licenciou-se em Gestão no Instituto Politécnico de Bragança, depois de ter feito o ensino secundário numa escola profissional em Mirandela, e pretende regressar à região de Tombali, onde estão os seus nove irmãos e os pais, que não vê há nove anos.

Numa altura em que manifestações de racismo em recintos desportivos portugueses foram notícia, é bom recordar o exemplo de humanidade e solidariedade que este atleta, por acaso de pele negra, deu ao Mundo.

De pequenino...

Felizmente, entre nós, os bons exemplos de fair-play já são devidamente assinalados, na hora, com a amostragem de um cartão branco. Utilizado nos escalões de formação de várias modalidades coletivas e individuais, pode ser dirigido pelo(s) árbitro(s) a praticantes, treinadores, dirigentes e, até, espectadores.

Recentemente, o sportinguista Dinis recebeu o cartão branco por ajudar o árbitro a emendar uma decisão errada, quando assinalou uma grande penalidade contra o Benfica, num jogo de benjamins (sub-11) de futsal do campeonato da AF Lisboa. Estavam empatados, 0-0, já na segunda parte, e o Sporting precisava de ganhar para passar para o 1.0 lugar, quando Dinis rematou contra a cara do adversário, que tinha o braço levantado, iludindo o árbitro. O Sporting acabou por marcar perto do fim (1-0).

Outro exemplo aconteceu em Alcanena, quando o infantil Santiago chutou para fora, quando se apercebeu que um adversário estava caído, lesionado, desistindo de marcar golo, só com o guarda-redes pela frente. A sua equipa estava a perder por 2-1.

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