Opinião
13 setembro 2023

Missão para lá das palavras

Tempo de leitura: 4 min
Francisco disse que «a Igreja é a casa da alegria», uma casa «acolhedora e aberta a todos», pois «a alegria é missionária».
P. Manuel Augusto Lopes Ferreira
Missionário comboniano
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(© Lusa/Miguel A. Lopes)

 

Tento propor, no texto deste mês, uma releitura das palavras mais significativas que o Papa Francisco dirigiu aos jovens e a todos nós, nos dias da sua estada em Portugal. A presença de Francisco e de tantos jovens, e menos jovens, vindos de todas as partes do mundo, levantou ondas de alegria, entusiasmo e emoção. Mas, agora – passadas as emoções que o evento provocou – importa iniciar um caminho para passar das palavras aos actos e viver a missão para lá das palavras, pois é na missão concreta, de cada dia e da vida toda, que o papa nos espera. Ele não escondeu ao que vinha: procurar alistar os jovens na transformação missionária da Igreja, o sonho da sua vida, revelado em A Alegria do Evangelho. Muitas leituras são possíveis das palavras do papa (no âmbito político, social, cultural e moral); mas a leitura original, a matriz de todas elas, é a missionária, no sentido de palavras que apelam para uma transformação missionária das pessoas, da Igreja e do mundo.

Francisco recordou, desde o primeiro dia (no encontro com responsáveis da Igreja) o sonho de uma Igreja em saída, à imagem de Cristo; uma comunidade que «caminha em ritmo sinodal e onde todos os baptizados contam», aberta a todas as pessoas e povos. Para viver numa «Igreja em saída é preciso procurar o encontro, fazer caminho; subir à barca e sair de novo para o mar aberto a fim de pescar, de fazer sentir a proximidade de Deus, nos lugares e situações onde as pessoas vivem, lutam, esperam».

Para isso, é preciso «recuperar o entusiasmo da primeira vez, despertar a ânsia pelo Evangelho» (ou seja, «viver uma segunda chamada de Cristo e uma segunda oportunidade para o Evangelho»). E isto num horizonte universal (a JMJ foi «um impulso de abertura universal», como disse o papa logo ao chegar), para lá da fronteira do oceano que nos rodeia: «não para conquistar o mundo, mas para alegrar o mundo com a consolação e a alegria do Evangelho». Francisco sugeriu (aos jovens universitários) os âmbitos para construirmos juntos a Igreja e o mundo do futuro: a ecologia integral e a fraternidade. São como que dois modelos de missão que o papa sugere: para os viver (como para viver qualquer modelo de missão) importa conjugar os dois verbos do peregrino «procurar e arriscar», «deixar o espaço de conforto pessoal rumo a um horizonte de sentido»; não caindo na ilusão de «substituir os rostos pelos ecrãs, o real pelo virtual; não sendo administradores de medos, mas empreendedores de sonhos!»

Importa responder a duas perguntas radicais feitas por Deus ao Homem: «onde estás? E onde está o teu irmão?» A resposta leva-nos a ser «protagonistas da mudança, mestres de humanidade, de compaixão, de esperança». Em Fátima, Francisco sugeriu uma atitude acolhedora, a aprender de Maria. E recordou que «a Igreja é a casa da alegria», uma casa «acolhedora e aberta a todos», pois «a alegria é missionária», é para comunicar a todos «em obras de amor».

Vamos ficar pela saudade do futuro, pelas palavras, pelos desejos e perdermo-nos na tradução? Francisco deixou o desafio de tornar «credível a fé através das decisões, indo mais longe e mais alto». E indicou, na Eucaristia do envio, o itinerário para viver uma missão além das palavras: «resplandecer, escutar e não ter medo!» 

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