Mal arrancamos e já o taxista começa a filosofar sobre as agruras da vida de quem tem de se levantar tão cedo, que ele, por acaso, até gosta de guiar de noite e, de resto, está mesmo a acabar o turno. «É só deixá-la no aeroporto, e ala para casa», diz, os dedos bailando no volante ao som da música que em surdina sai da rádio.
Não me deu tempo a dizer o que quer que fosse e logo começa uma conversa desenfreada, sobre os malucos que lhe entravam no táxi: «Antes de a apanhar, apanhei dois homens que iam caçar sabe para onde? Claro que não sabe! Para o Cazaquistão, imagine! Eu ainda lhes disse: “Vocês estão a gozar com a minha cara!”, mas eles que não, que era mesmo verdade, e era, porque, quando os larguei no aeroporto, já lá estavam mais quatro, com as armas e tudo ao lado, deu-me cá um arrepio...»