Opinião
01 fevereiro 2023

O ardor missionário de Bento XVI

Tempo de leitura: 4 min
Uma das características de Bento XVI, transversal a todo o seu magistério, foi o seu ardor missionário.
Bernardino Frutuoso
Director
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Bento XVI, papa entre 2005 e 2013, faleceu, aos 95 anos de idade, no último dia de 2022. Entretanto, muitas pessoas destacaram alguns traços relevantes da sua vida e do seu vasto legado: a riqueza do seu magistério e do seu pensar como teólogo e intelectual; a capacidade de interpretar os sinais dos tempos na complexidade da cultura contemporânea e de abrir sendas de diálogo entre a tradição e a modernidade, a fé e a razão; a promoção do diálogo e a cooperação com os anglicanos, os Judeus e representantes de outras religiões; a sua firmeza contra os crimes cometidos por representantes do clero contra menores e pessoas vulneráveis; o gesto humilde e profético da renúncia ao pontificado, que inaugurou um outro modo de ser e de viver enquanto papa.

No passado dia 5 de Janeiro, quando num acontecimento inédito na História do catolicismo um papa presidiu ao funeral do seu predecessor, Francisco lembrou que a vida de Bento XVI «não foi gasta em nome próprio, mas gasta em nome da Igreja e do Evangelho». Efectivamente, uma das características de Bento XVI, transversal a todo o seu magistério, foi o seu ardor missionário e como trouxe a urgência do anúncio do Evangelho para o centro da vida. Desde a missa de início do seu pontificado, repetiu que a única razão de ser da Igreja é confessar e proclamar a todos os povos «a presença viva de Cristo». Quando visitou Portugal em Maio de 2010, deixou um apelo ao reforço do papel missionário da Igreja no mundo moderno. Na homilia da missa que presidiu na Avenida dos Aliados, no Porto, disse: «O cristão é, na Igreja e com a Igreja, um missionário de Cristo enviado ao mundo. Esta é a missão inadiável de cada comunidade eclesial: receber de Deus e oferecer ao mundo Cristo ressuscitado, para que todas as situações de definhamento e morte se transformem, pelo Espírito, em ocasiões de crescimento e vida.» E continuou lembrando que «desde as suas origens, o povo cristão advertiu com clareza a importância de comunicar a Boa Nova de Jesus a quantos ainda não a conheciam». E, reconhecendo que se alterou «o quadro antropológico, cultural, social e religioso da Humanidade», sublinhou que «hoje a Igreja é chamada a enfrentar desafios novos e está pronta a dialogar com culturas e religiões diversas, procurando construir juntamente com cada pessoa de boa vontade a pacífica convivência dos povos».

Esta vocação missionária da Igreja foi igualmente afirmada nos discursos pronunciados nas viagens apostólicas e nas assembleias do Sínodo dos Bispos – lembro como em 2007, no Santuário de Aparecida, Brasil, no discurso inaugural da V Conferência Geral do Episcopado da América Latina e das Caraíbas afirmou: «Discipulado e missão são como os dois lados de uma mesma moeda: quando o discípulo está apaixonado por Cristo, não pode deixar de anunciar ao mundo que somente Ele nos salva (cf. Act 4, 12).» E sublinhou que «a evangelização é desenvolvida sempre em conjunto com a promoção humana e a autêntica libertação humana».

Testemunhar o Evangelho foi a missão de Bento XVI. Uma missão que todos os discípulos missionários de Jesus estamos chamados a realizar no nosso quotidiano, conscientes de que «sem Cristo não há luz, não existe esperança, não há amor e não existe futuro». 

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Editorial
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