Opinião
01 maio 2023

Peregrinos da esperança e da paz

Tempo de leitura: 4 min
Somos convidados a ser «peregrinos da esperança», recuperando, com a chama da esperança acesa, o sentido da fraternidade universal e da paz.
Bernardino Frutuoso
Director
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(© 123RF)

 

Desde o início do seu pontificado que o Papa Francisco tem alertado que o mundo está a assistir a uma Terceira Guerra Mundial «aos bochechos», que, no entanto, «ameaça tornar-se cada vez maior até que tome a forma de um conflito global». No livro O Que Vos Peço, em Nome de Deus – 10 ideias para um futuro com esperança (Editorial Presença, 2023), o papa reafirma essa preocupação e pede à Humanidade o fim da «loucura cruel da guerra». O conflito na Ucrânia, refere o pontífice, expõe as consciências de milhões de pessoas no Ocidente à dura realidade de uma tragédia humana «que existe há muito tempo e em vários países» e «mostrou-nos o mal do horror da guerra», mencionando ainda os restantes conflitos. Francisco sublinha que a guerra é sempre uma resposta ineficaz e nunca resolve os problemas que pretende superar, mencionando como exemplo o drama que persiste na Líbia, na Síria e no Iémen.

É ao conflito no Iémen, designado várias vezes pelas Nações Unidas como uma «guerra esquecida», pois é mais difícil que nos envolvamos emocionalmente e tenha visibilidade mediática um conflito geograficamente distante, que damos destaque nesta edição – ver páginas 22-29. Uma década de violência armada arrasou o país, ponto estratégico do Médio Oriente. Segundo a agência humanitária Oxfam, a guerra causou 12 mil mortos civis e quatro milhões de deslocados. E Peter Hawkins, representante da Unicef no Iémen, afirmou em Março passado que «mais de 540 mil crianças menores de cinco anos sofrem de subnutrição aguda grave, e uma criança morre a cada dez minutos de causas preveníveis». Entretanto, como menciona Hisham al-Omeisy, analista político e activista, na entrevista que nos deu, o inesperado reatar das relações diplomáticas entre os inimigos Arábia Saudita (que coordena a coligação que apoia as forças governamentais) e Irão (que financia o grupo rebelde dos hutis), alcançado sob os auspícios da China, abre uma janela de esperança para um cessar-fogo permanente e um acordo estável de paz.

Outro dos conflitos actuais situa-se em Cabo Delgado, no Norte de Moçambique, região onde o terrorismo, a fome e a pobreza extrema são uma triste realidade. A violência afecta, directa ou indirectamente, mais de 800 mil moçambicanos; nesta edição damos voz a algumas dessas vítimas – ver páginas 44-49. É com essas pessoas concretas, com os seus sofrimentos e esperanças, que a Igreja Católica desenvolve projectos sociais, particularmente na área da educação, com a certeza de que o desenvolvimento social permitirá sonhar com o fim da violência e da pobreza.

Na obra anteriormente mencionada, o Papa Francisco aponta o caminho para uma solução que leve a uma paz duradoura e estável: «É necessário o diálogo, a negociação, a escuta, a habilidade diplomática e a criatividade, bem como uma política de visão de longo prazo capaz de construir um sistema de convivência que não se baseie no poder das armas ou da dissuasão». E no epílogo, somos convidados a ser «peregrinos da esperança» – o lema escolhido pelo papa para o Jubileu de 2025 –, recuperando, com a chama da esperança acesa, o sentido da fraternidade universal e da paz.  

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Editorial
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